Estarmos juntas as mulheres não era suficiente, eramos diferentes.
Estarmos juntas as mulheres lésbicas não era suficiente,
eramos diferentes.
Estarmos juntas as mulheres negras não era suficiente,
eramos diferentes.
Estarmos juntas as mulheres lésbicas negras não era suficiente,
eramos diferentes.
Cada uma de nós tinha suas próprias necessidades
e seus objetivos e alianças muito diversas.
A sobrevivência nos advertia a algumas de nós
que não nos podíamos permitir definir-nos a nós mesmas facilmente, nem tampouco fechar-nos em uma definição estreita…
Fez falta um certo tempo para dar-nos conta de que nosso lugar era
precisamente a casa da diferença, mais que a segurança de uma diferença em particular.

– Audre Lorde

REFLEXÕES SOBRE A XII CAMINHADA LÉSBICA

Este ano a caminhada lésbica se encontra dividida em duas. Essa divisão, promovida pelo poder patriarcal (que nas políticas lésbicas se traduz nos financiamentos governamentais que destroem nossas agendas e desarticulam a radicalidade feminista), foi capaz de solapar 11 anos de construção coletiva e acabar com o único projeto unitário (ainda que moderado) do movimento de lesbianas de São Paulo. Este racha é fruto da lógica heterossexual que, a fim de desarticular nossa resistência, nos coloca umas contra as outras e faz com que conversas de gabinete passem a valer mais do que a decisão da coletividade. Foi o que aconteceu esse ano: em
assembleia com cerca de 30 mulheres, ficou decidido que não nos pautaríamos pela data da Parada LGBT e que a Caminhada iria se realizar no dia da Visibilidade Lésbica (29 de agosto); mas, logo após isso, algumas poucas lesbicas se reuniram com o governo e acharam de bom tom passar por cima da decisão coletiva e realizar a Caminhada no dia de hoje, o que politicamente implica dizer que acham mais válido que estejamos atreladas (ainda que sob o discurso de uma falsa oposição) ao movimento LGBT do que construamos nossos próprios espaços desde a rebeldia e insurgência feminista.

Não reivindicamos esse lesbianismo liberal porque não acreditamos que o regime político da Heterossexualidade Obrigatória e seus sistemas concomitantes – capitalismo, racismo, neoliberalismo, especismo – se destruirão com a absorção da rebeldia lésbica pelos mesmos, transformando-nos em meras ‘diversidades sexuais’ pacíficas e toleráveis. Recusamos o proxenetismo patriarcal que copta as políticas lésbicas e as enfraquece para acomodá-las melhor a este.

Não queremos aceitação nem tolerância, queremos o fim da Heterossexualidade que nada mais é que o regime de sujeição das mulheres.
Lesbianidade é uma arma apontada contra a Supremacia Masculina

Radicalização Lésbica já!

Convocamos a todas que politizem suas lesbianidades e encontrem junto a outras, em sororidade lésbica, os caminhos da nossa autonomia e autogestão!

Eu-lésbika

num mundo de tudo é do homem
ate mesmo uma mulher
eu não me encaixo
sinto profunda solidão
os sonhos trazem esperança
meu desejo revela a conexão
com uma desertora
me refugio nos braços da amante
tivemos que tacar fogo na rua formando
barricadas de palavras
como armamento confeccionamos molotovs
e atiro contra policiais afetivo sexuais
meu machado protege este ninho
aquele que tentou chegar perto de meu sexo
voltou sem o seu
raspei os meus cabelos
e vesti as roupas dos meus primos
e não me deixam mais em paz no banheiro feminino
uma amiga apanhou na rua porque beijava sua companheira
enquanto abraçava minha namorada branca
eu chorei porque percebi que eu não tinha a mesma cor
e ganhei um poder quando me vi negrax

FORMIGA