Nenhuma lésbica a menos! Luana Barbosa, Sarah Hegazi, Nicole Saavedra vivem na luta!

As histórias de vidas de lésbicas potentes interrompidas pelo lesboódio não podem simplesmente sofrer o segundo lesbocídio simbólico de se tornarem notícias de tablóides, estatísticas de lesbocídio para endossar pesquisas que clamem ao Estado reconhecimento, ou nomes citados em jograis na rua, mas sem substância. Precisamos relembrar suas vidas, mantê-las vivas por meio da luta, fazer vingança e justiça por meio da rebeldia e resistência lésbicas. Precisamos entrar em um contato mais profundo com suas narrativas.

Por isso, em função da agitação pelos 3 anos do lesbocídio da sapatão butch chilena Nicole Saavedra ocorrido no mesmo ano que Luana Barbosa dos Reis, em função do suicídio da ativista egípcia exilada política por motivo de lesboódio no Canadá, Sarah Hegazi, justo na semana de consciência sobre a condição de pessoas refugiadas no mundo, e em memória a Luana Barbosa dos Reis, lésbica negra caminhoneira, mãe, negra, poetisa, ex-presa, morta por lesboódio e racismo das forças policiais genocidas do Estado bra$ileiro e juntando à agitação do “Vidas Negras Importam” contra o genocídio policial da juventude negra, estamos trazendo a vocês três escritos que buscaram ficar mais próximos da vida dessas lésbicas. Lembramos que as únicas que levaram a frente o caso de Luana Barbosa à visibilidade pública foram as lésbicas. Nem feministas nem o movimento negro deram tanta repercussão, como por exemplo podemos ver com a adesão dos movimentos sociais à liberdade de Rafael Braga.

Todas elas têm em comum terem sido mortas por serem lésbicas, ou seja, por sua insubordinação ao poder dos homens num mundo que odeia mulheres e mais ainda, mulheres que não estão acessíveis a classe dos homens e não vestem as marcas de casta sexual designada à nós: a feminilidade.

Frente à violência masculina vemos o separatismo lésbico e autogestão das nossas comunidades como a resposta, fortalecendo o processo de construção de comunidades lésbicas plurais, anti-racistas e anti-capitalistas, ecologistas e de nossa própria cultura.

Por Marielle Franco e tantas outras que ainda falaremos, pelo fim das prisões e pela destruição do regime heterossexual. Sapatonas insubmissas, presentes, agora e sempre!

Quem esquece das Mortas

Quem esquece das Presas

Esquece da Luta

Que nossa Memória

Construa Rebeldia

————————————————————-

Luana Barbosa dos Reis: “Luana era uma lésbica fantástica, combativa, corajosa! Cresceu entre mulheres numa época crítica para as periferias de São Paulo, especialmente para as meninas: os anos 90. Cresceu presenciando o que se vive como menina nesse contexto, convivendo com mulheres cujas histórias eram trágicas: filhos que faleciam um a um no tráfico, assassinados pela polícia, maridos e parentes que as violentavam, espancavam, abusavam (…) Mas ainda assim, com uma grande admiração pelo apoio, sem a mínima referência de feminismo ou teorias, que as mulheres eram capazes de dar uma à outra nessa trajetória. (…) Luana, então, cresceu com um espírito convicto de autodefesa e de se impor no mundo. Queria EXISTIR! Ela escrevia, era artista: desenhava, gostava de ler, de poesia, gostava de arte, era uma pessoa que amava abrir novos horizontes e amava criar. Uma potência tão grande que se rebelou, que se aliou a gangues de mulheres, que confrontava os homens na rua, que não permitia que sua existência fosse apagada e sufocada pela violência masculina ou alheia”. Leia mais em: https://filosofialesbica-blog.tumblr.com/post/172316222390/luana-barbosa-presente

Nicole Saavedra Bahamontes: “nicole saavedra bahamondes, nascida em 9 de agosto de 1992, era uma lésbica que vivia em el melon, zona rural de limache, na quinta região do chile. filha mais nova de uma família pobre, nicole era estudante e estava há um semestre de formar-se como técnica em prevenção de risco laboral, no instituto de quillota. sua prima, maría bahamondes, relata que nicole escolheu estudar em quillota, há 18 km de el melon, porque lá tinha uma rede de amigas e amigos, e também porque sentia-se mais cômoda fora da comuna rural em que vivia, onde sofria ataques lesbofóbicos pelo menos desde os 14 anos, principalmente pelo fato de que era uma lésbica caminhoneira (que não performava feminilidade). maría menciona, inclusive, que aos 16 anos nicole foi assediada e perseguida por um grupo de homens que dizia que iam “torná-la mulher”. finalmente, aos 23 anos, ela foi sequestrada, torturada, abusada e espancada até a morte por ser lésbica, por ser caminhão, por não esconder sua sexualidade.” leia mais em: https://medium.com/@acrciavioleta/nicole-saavedra-bahamondes-nascida-em-9-de-agosto-de-1992-era-uma-l%C3%A9sbica-que-vivia-em-el-melon-98defc1c7c3b

 

Sarah Hegazi: “Na semana de conscientização sobre a situação de pessoas refugiadas no mundo  ficamos sabendo da perda de mais uma vida lésbica: Sarah Hegazi, ativista lésbica egípcia refugiada no Canadá por motivo de lesboódio do Estado egípcio, comete suicídio. Por informações que coletei isso teria ocorrido no dia 14 de Junho. Sarah tinha 30 anos de idade. Hegazi era uma lésbica socialista e feminista. Trabalhava como desenvolvedora de software, uma área também desafiadora para mulheres. Sarah era uma revolucionária socialista presente na revolução egípcia durante a Primavera Árabe, e dava palestras sobre as revoluções no mundo árabe. Uma lésbica butch pelo que podemos perceber, sem performance de feminilidade, que deixou o hijab e dizia-se abertamente de esquerda e crítica da violência estatal, uma brava mulher corajosa e inteligente. Seus pais ficaram sabendo que era lésbica após o incidente que iria marcar sua vida: a perseguição e detenção de dezenas de lésbicas e gays egípcios por ocasião do show da banda libanesa Mashrou’ Leila por hastear a bandeira LGBT num país onde a homossexualidade é fortemente criminalizada e perseguida. 56 pessoas foram presas depois dessa ocasião.” https://medium.com/@lesbikapensante/sarah-hegazi-presente-o-drama-das-mulheres-eg%C3%ADpcias-e-a-situa%C3%A7%C3%A3o-de-l%C3%A9sbicas-refugiadas-no-mundo-79b88d0f38a5

 

rap radikal lésbiko por raposa

rap lesbiko radikal, vegano, ecologista e combativo!

O fardo da ofensa nos ombros carrego
A palavra radical é calúnia pros cegos
Presos na ignorância como podem
Viver sem raiz?
Viver sem história?

A ganância incessante gerou tudo o que existe
Conquistando território e gerando povos tristes
Que só vivem o desconforto do que repetem dia a dia
Que pensam ser a enfermidade o que acaba com a agonia

É zona de conforto toda iludida
De uma sociedade que há muito está perdida
Que leva à doença e à escravidão
Leva à opressão daquelas que não detem poder nas mãos

E você vem dizer que basta a gratidão
Sem notar que estamos em tempos de guerra
Petulantes sem cessar destruindo a Mãe Terra

E sem as guerreiras todas as outras sucumbirão
Sem as curandeiras as espécies se extinguirão

Radical, que cava até descobrir a verdade
Da continuidade do poder dos homens
Que matam nossa dignidade
Sobre aquelas que foram e são queimadas no fogo da mediocridade
Apedrejadas, condenadas por um deus que fede a maldade

Escravizadas desde a nossa infância por essa cultura repulsiva
Que nos tira o ser criança transformando desde cedo em objeto
Anulando a liberdade em seu decreto

E hoje a violência se veste de sutileza
Cegando sua clareza
Naturalizando o corpo machucado
Drenado de prazer disfarçado
Num lugar de sofrimento em vão
Na cama do vilão

Liberta sua fúria

Revoltada, resgate da selvagem odiada pela civilização
Odiada pelos que mentem dizendo ser irmãos
Insistindo que por sua hipocrisia devemos juntar as mãos

Detestada, inclusive, por aquelas por quem luto
Isolada pelo mundo, sem que haja para mim um chão
Em que possa pisar e assegurar
“Este é o meu lugar”

Sou a guerreira amazona
Sapatona
Amante daquela que sangra sem redoma
Que também traz na alma o brilho e a ira

Pobre Pacha Mamma na cidade mal respira

Sou a selva corpórea da flora que cresce sem cessar
O incômodo de quem quer me manter no lugar
Em que não nasci pra ficar

Sou a bruxa sem sistema, sem destino
Tratada como a louca em ruína
Sem migué, eu confirmo e boto fé
Se ser sã é seguir a sina da rotina
Da vida aprisionada na cortina de fumaça cinza

Sou então a mais louca das loucas

Pouco me importo com o quanto incomodo
Com o quanto tentam me silenciar, e me anular
Distorcer as cruas e duras verdades que tenho a dizer

Na real isso já é de se esperar
Dos patriarcas que só querem nos aniquilar
Nos feminilizar e nos educar
A sermos complacentes com a terrível cultura do estupro

Que tira o valor do nosso NÃO
Misoginia pornografia pedofilia lesbofobia e mutilação

Continuarei resistindo
Sendo visível, insistindo
Declarando o meu ódio contra o patriarcado
que faz a vida da mulher trancada

Contra a heterossexualidade compulsória, o racismo
e toda injustiça vexatória
Mulheres periféricas são as que mais sofrem com essa história

Sou a ancestral pelo tempo transportada
De bastão e labrys armada
Declaro a batalha
Sapatão, peluda e antiestética
Viajo sem rumo e faço arte sem apego à matéria

Assim como você parceira
Sou sobrevivente guerreira dessa realidade
Na sagacidade
Não precisamos dos homens nem dessa pútrida cultura
Suposta solução que é o veneno que nos mata

Tu não tá sozinha, até o fim dos tempos, seguiremos na luta

RELATO DE VIOLÊNCIA LESBOFÓBICA E CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DENTRO DO ATO DO 8 DE MARÇO DE SP E REFLEXÃO SOBRE O ÓDIO AS LÉSBICAS DENTRO DO MOVIMENTO FEMINISTA ATUAL

[agradecemos a difusão desta nota]

No ato do 8 de março em São Paulo pelo Dia Internacional das Mulheres, que ocorreu neste último domingo em SP, Lésbicas Radicais Autônomas foram agredidas por militantes da FLM (Frente de Luta por Moradia). Levando panfletos e uma faixa escrito “Lésbicas Radicais contra o Capital e o Estado Racista Patriarcal” lembrando a necessidade da luta contra todos sistemas simultâneos de opressão originados pelo Macho, as ativistas lésbicas tentaram encontrar lugar na marcha, um pouco logo ao final. Logo atrás das sapatões autônomas estavam os militantes da FLM, homens e mulheres. Logo de início no ato, assim que as sapatonas entraram na via com a faixa sobre lesbianidade, um casal de namoradas do grupo de lésbicas autônomas que estavam de mãos dadas foram agredidas sem nenhum motivo  por um homem que compunha o FLM. Ele empurrou brutalmente as duas companheiras para trás, socando contra o peito delas, mandando-as sair do ato,  num ato nitidamente lesbofobico pela tentativa de interromper a expressão de afeto das duas. O esquerdomacho foi repreendido pelo seu colega de militância, nisso o agressor disse que não se importava que fossem mulhere“ia descer a porrada de qualquer jeito”.

 

Quando o agressor notou que as pessoas começaram a repreendê-lo mais, ele usou a intervenção artística – que consistia em estarem apresentadas com máscaras e chapéis de bruxa – como desculpa para bater no casal de ativistas lésbicas, tentando mobilizar @s demais militantes contra nós. A intervenção em questão consistia na vestimenta que trazíamos de máscaras e chapéis de bruxa desenhadas com papel, remetendo à historia das mulheres resistentes e da autonomia e rebeldia feminista. Também consistia em uma ação política legítima de auto-defesa feminista, pois há um motivo muito razoável para cobrirmos nossos rostos: a lesbofobia e o estado de guerra contra as mulheres e lésbicas no Patriarcado. Optamos pelas máscaras como uma tática de segurança, seja pela violência, seja porque entre nós haviam lésbicas em várias profissões e ambientes de trabalho lesbofóbicos, sendo que o panfleto que levávamos se tratava justamente de como a sobrevivência de lésbicas se encontra ameaçada pela lesbofobia e discriminação.

 

Irmos mascaradas significa a declaração de nossa autonomia feminista e a recuperação de nossas corpas lésbicas para nós: negar a sociedade de imagem em que vivemos e barrar o acesso a nossas corpas e sua exposição e de nossos rostos na mídia patriarcal burguesa, o que consideramos um ato de violência e invasão, também de modo à trazer atenção para nossa faixa e não para nossas caras. Além disso, gostaríamos de lembrar da perseguição e hostilidade contra idéias radicais que existe na nossa sociedade que se encontra num processo de facistização cada vez maior, e por outro lado, dentro do próprio movimento feminista que vem se mostrando extremamente hostil às lésbicas, utilizando violências e táticas de difamação de companheiras e das idéias lésbicas radicais e distorção, destruição da memória feminista de modo a dissociar lésbicas do feminismo em prol de fazer política de ‘maiorias’ e manipular lésbicas com culpa por lutarem por e para si mesmas e por sua pova lésbica, terem vergonha de sua auto-organização e ameaçarem seus espaços exclusivos, além de típica reversão dos lugares de agressor e agredida (gaslightining) contra lésbicas radicais, mostrando seu caráter colaboracionista e mantenedor da opressão das mulheres em prol da reforma de machos. Assim, as lésbicas tem que se defender de violências vindas de dentro e fora do movimento igualmente.

 

A utilização do pretexto da máscara abriu espaço para a perseguição política, e assim o FLM se mostrou como verdadeiros coxinhas, polícia vermelha dentro da manifestação, declarando seu ódio a todo tipo de ativismo radical. Começaram a ameaçar de nos entregar para a polícia, e diversas tentativas foram feitas de conversar e explicar que se tratava de uma intervenção artística e uma questão de segurança e não num ato de vandalismo, eles não desistiam: estava claro que queriam desmobilizar a nossa ação. Num dado momento fomos para umas escadarias por acharmos o ‘estar dentro’ da marcha cheia de bandeiras partidárias e homens incômoda, além da estética da ‘participação’ nos incitar o desejo de encontrar um lugar mais marginal e contestatário. Então escolhemos um lugar de visibilidade maior de modo a que toda a marcha visse nossa mensagem e fomos segurar a nossa faixa no alto de umas escadarias na avenida Paulista. Os militantes nos perseguiram até aí. Quando entramos novamente no ato, nos perseguiram novamente, todas vezes que tentamos sair de perto deles, insistindo que tirassemos as máscaras, homens e mulheres, tentando nos atrapalhar. Num dado momento começaram a nos filmar, e nós à eles. Mais uma vez de forma lesbofobica tentaram implodir nossa intervenção criminalizando a existência lésbica naquele espaço

 

Como se não bastasse a agressão inicial tivemos que lidar com a perseguição desse grupo. O agressor chamou vários outros machos enormes do FLM para nos perseguirem, e quando dizemos perseguição queremos dizer que o nosso agressor, suas e seus cúmplices ficavam a menos de meio metro de nós. Diversas mulheres e seus captores/maridos/companheiros de militância ficaram nos perseguindo durante a marcha, incluindo o agressor, dizendo “que estavam de olho”, afinal, a gente era o único grupo somente de lésbicas visíveis durante o ato rompendo com o regime e agenda heterossexual. Tudo isso foi registrado em filme pelo casal de ativistas lésbicas.

 

Diversas feministas estavam fantasiadas, com roupa, sem roupas, de máscaras ou sem, mas somente contra nosso grupo ele agiu dessa forma violenta, totalmente lesbofóbica. Isso não justifica a culpabilização da vítima por estarmos mascaradas, temos direito a nossa expressão política e a segurança e medo das mulheres e lésbicas nunca deve ser subestimada sob um Patriarcado. Não é Não. Não podem nos obrigar o acesso a nossos corpos. Auto-defesa feminista nunca é exagero. Se a questão fossem as máscaras mesmo ninguém precisava apanhar, era só chamar a comissão organizadora, e esta nao viu problemas dado que eram apenas mascaras infantis de papelão e que os motivos de nao querermos sair na midia eram óbvios. Queriam bater nas sapatão  por um motivo apenas: Lesbofobia.

 

As agressões e perseguição pararam somente com ação (eficaz) da comissão de segurança da marcha do 8 de março, composta por coincidência por algumas sapatonas conhecidas, que buscamos quando esgotadas as tentativas nossas de diálogo e resistência ao assédio lesbofóbico e coxinha. Elas falaram para que mantivessemos nossa intervenção e levaram o agressor até o metrô o expulsando da marcha para ter certeza de não comprometer a segurança. Parabenizamos aqui a ação e sororidade das companheiras.

 

Porém queremos deixar a reflexão de que em nenhum momento qualquer mulher à nossa volta, além da comissão de segurança, teve a decência de se sororizar e não se mostrar indiferente à agressão que estávamos sofrendo, e de ajudar a compôr resistência, nós tivemos que nos proteger sozinhas como sempre.  Os homens estavam fisicamente nos ameaçando e entrando no meio da gente. Pedimos ajuda às mulheres em volta, as agredidas gritaram que haviam sofrido agressão, nenhuma se comoveu e não houve o princípio feminista “Se agridem a uma – respondamos todas”, mesmo que as militantes à nossa volta segurassem faixas sobre combate à violência contra mulher. Se a teórica lésbica Monique Wittig dizia que lésbicas não eram mulheres, parece que as companheiras heterofeministas tem isso bastante claro de que estamos excluídas de sua agenda política e que lésbicas não são prioritárias nem sua questão no movimento feminista, e que se lésbicas são agredidas, elas não saem a nos defender como se pede a lésbicas que façam pelas mulheres, que têm sua energia lésbica extraída e demandada pelo movimento de mulheres tornando o separatismo um ato de heresia temido e criminal, que recebe muitas difamações e acusações de misoginia e abandono das ‘mulheres’ nos acusando de portar falsos privilégios de não dormir com o opressor.

 

Apesar da expulsão do agressor, queremos lembrar que a expulsão de um agressor não é o suficiente para garantir a segurança das mulheres e lésbicas, uma vez que a classe dos homens como um todo é inimiga das mulheres. Mulheres heterossexuais trazendo homens para as marchas estão comprometendo a segurança de todas, e muito embora isso seja uma programação da heterossexualidade obrigatória que domestica as mulheres desde criancinhas para dever lealdade e dependência aos macho, é hora de acordar e nos responsabilizarmos de nossa autonomia e da defesa da nossa resistência coletiva, já que minimamente nos encontramos em um movimento dito feminista e já há informação suficiente sobre as estatísticas de assassinato de mulheres pela classe dos homens a cada segundo, mutilação genital feminina, violência/estupro obstétrico, casamento de crianças, tráfico para fins de exploração sexual, violências e estupros reincidentes dentro dos movimentos sociais e da Esquerda e outras provas das atrocidades que eles são capazes contra mulheres. Queremos lembrar da importância de que recordemos que o feminismo é das mulheres e lésbicas e os espaços auto-organizados são um meio de resistência e autodefesa feminista, logo é inadmissível a presença de agressores neste, ademais da revitimização de sobreviventes de violência que consiste este ato, pois inúmeras mulheres e lésbicas tem na figura masculina um acionador de traumas e experiências de violência e vulnerabilidade. Nos espaços e atividades de mulheres e lésbicas homens não devem entrar. Nas manifestações  e marchas feministas, a rua tem que ser exclusivamente nossa!

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É muito frustrante perceber a fragilidade da nossa posição enquanto lésbicas radicais autônomas dentro da dinâmica feminista hegemônica. Precisamos ficar sempre alertas com os homens que as heterossexuais levam para os atos. De forma lesbofobica elas colocam em risco a nossa integridade e a de suas irmãs. O desprezo do feminismo heterossexual hegemônico à feministas autonomas, separatistas, sapatões, ficou evidente nos atos deste final de semana onde escutavamos muitas vezes a palavra ‘homens e mulheres’ sendo ditas no microfone e poucas vezes a palavra lésbica, muitas vezes a pauta de ‘homofobia’ (que não é assunto do feminismo mas sim do LGBT) sendo dita nos microfones – objetos que eram exclusividade das pelegas participadoras das reuniões onde quem discordasse era expulsa, logo as únicas a serem ouvidas –  e poucas ou nenhuma vez a palavra ‘lesbofobia’, onde participantes heteras assediavam ativista lésbica com perguntas lesbofóbicas e invasivas e dizendo que também lutavam por nós por ter um bottom escrito ‘contra a homofobia’, como se fossemos a versão feminina de machos gays, ou a clamação de que os homens deveriam fazer parte do feminismo, incluindo aí clientes de prostituição/proxenetas acadêmicos que chegaram a participar de uma ciranda de mulheres em Campinas enquanto uma lésbica era interrompida no que estava dizendo e retirado o microfone dela, a cumplicidade com sequestradores e violadores do feminismo como os gays queer que fazem lavagem cerebral em lésbicas liberais voltando estas contra lésbicas radicais e outras mulheres, machos supostos dissidentes do ‘gênero’ ganhando dinheiro com suas bolsas de estudos de gênero para colonizar a luta das mulheres e lésbicas e estuprar os seus espaços. No ato de Campinas no sábado anterior ao ato na Avenida Paulista em São Paulo, uma companheira conseguindo à muitas custas poder falar ao microfone, teve sua voz interrompida, a primeira e única voz lésbica lá. Também no mesmo ato, as lésbicas foram mandadas para o final da marcha, enquanto que homens podiam segurar bandeiras de seus partidos em meio à marcha pois estariam ‘protegendo’ as militantes de sua organização. A lógica heterossexual – a compulsoriedade da união das classes homem e mulher e o tabu contra seu rompimento pela autonomia das mulheres e lésbicas – se apresentava na compulsiva apresentação de militantes que apenas estavam ali por determinação de seus partidos ou na predominância de organizações que por mais que se digam de “Mulheres”, estão ali a mando de PT, CUT, PSOL, PSTU, governismos, sindicatos e qualquer outro Pai/Patriarca, e não pelas mulheres e lésbicas e seus interesses, mas para atender os interesses de seus grandes esposos.

 

Também deixamos como reflexão a importância de que as lésbicas sororizem com outras lésbicas e despertem sua consciência para a valorização de um movimento autônomo de lésbicas. Apesar de não termos convocado amplamente para a bloca, que era de afinidade, as lésbicas devem juntar-se às sapatão. São as mais expostas e mais prováveis vítimas de violência e as que mais necesitam de uma estratégia defensiva de bloco em marchas. Enquanto isso eramos minoria da minoria, e as sapatão se prestavam à situação de fazer número para outras organizações ou heterofeministas, servindo de guarda-costas a elas ao invés de unir-se à outras lésbicas e se interessar pelo projeto político lésbico feminista, o único no qual lésbicas são prioridade e não assuntinho secundário e menor, ‘divisionista’ e evitado com toda cautela.

 

Achamos legítima a denúncia e exposição da agressão e não corroborar com o silêncio, e não temos muitas expectativas de que será esse relato de denúncia e crítica que vai fazer os movimentos sociais levarem a lesbofobia a sério, se nem o movimento feminista o leva e ao final deste escrito muitas que o estejam lendo devem estar considerando, como sempre, que somos ‘um bando de loucas’. Por isso convocamos novamente as lésbicas a constituírem um movimento autônomo de lésbicas e autodefesa lésbica porque apenas acreditamos em poder contar com nós mesmas e não esperamos nada das instituições dos Machos como delegacias de polícia, Estado, e afins. Aquelas que se sensibilizarem com esse relato sabemos que estarão do nosso lado.

 

As companheiras vamos nos recuperando desta agressão lesbofóbica e de outras de modo a que não nos expulsem do movimento por traumas, acionadores, insegurança e desconforto. Nos manteremos firmes. Nenhum espaço é seguro para lésbicas a menos que construamos o nosso, em autonomia sapatão. Não importa quanto homens – gays e heteros – e mulheres heterocentradas queiram aniquilar as sapatão e sabotar a verdadeira libertação das mulheres do seu estatuto de escravização sexual, vamos continuar existindo, nos multiplicando e resistindo, contaminando outras de rebeldia e desobediência feminista. Insistiremos na palavra LÉSBICA em todos lugares em que quisermos ocupar e estar, até que todas mulheres sejam finalmente livres.

 

SAPATONAS RESISTEM!

 

Lésbicas Radicais Autonomas

10986450_1382456585407152_5751977069863513656_n11009850_1382456882073789_5194175652203744624_n

 

 

* em breve, uma crônica e análise mais aprofundada da nossa participação e reflexão sobre o Estado do movimento feminista.