Feminismo Lésbico e Movimento Gay: outra Supremacia Masculina, mais um Separatismo – Marilyn Frye

Feminismo lésbico e o movimento de direitos dos gays: outra visão da supremacia masculina, outro separatismo” (1F), por Marilyn Frye, do livro “Políticas da Realidade: Ensaios sobre Teoria Feminista.”. Clique para ler e aqui para baixar pdf.

 

 

Criando e Sustentando Espaços para Bio Lésbicas Butch

por Pippa Fleming

 
 
Cada ser humano que chegou a este mundo o fez por meio da vagina de uma mulher. Sem um útero nenhum de nós estariamos aqui. É o útero que nos faz únicas e houve um tempo em que este fato era reverenciado, celebrado e não vilificado. Desde que as guerras contra as antigas tribos de mulheres foi travada há milhares de anos atrás. identidade feminina foi e vem sendo rendida invisível. No núcleo desta invisibilidade estão patriarcado, misoginia, racismo, homofobia, guerra e ódio.
 
Como uma mulher Afro-Nativa eu carrego o legado da escravidão e genocídio na fibra dos meus ossos e é o chamado da minha vida prestar homenagem para as lutas das minhas ancestrais e nunca esquecer nosso Maafa. É meu dever contar a verdade sobre estupros, envenenamento, emprisionamentos, mortes e abusos de mulheres.  A vagina tem sido cobiçada e odiada durante eras .
 
Desde que a guerra contra as mulheres foi declarada, mulheres tiveram que lutar e sacrificar suas vidas para que outras pudessem; parir suas crianças em casa, andar pelas ruas em paz, ganhar mesmo salário, fazer amor com outra mulher, votar, ter propriedade e não ter que sentar no fundo do ônibus. É único para as mulheres sangrar pelas nossas vaginas e ter o poder de gerar vida se escolhemos. Esse poder divino é a razão pela qual você tem o Facebook como algo trivial ou transformacional.

Então porque quando Eu como uma lesbiana butch negra bio/cis quero criar um espaço separado para celebrar nossa identidade e reconhecer nossa herstória e lutas isso é visto como um ato de exclusão? Por que estou eu novamente sendo dita que mulheres Negras não podem se juntar e que há algo de errado com este desejo e necessidade? É um ato de revolução para lésbicas Negras dizer “nós queremos nosso espaço sem você”… seja lá quem você for. É algo também, e sempre esteve sendo desde que fomos trazidas aqui, ser visto como desacato as mulheres negras se reunirem. Era contra a lei em tempos de escravidão que pessoas Negras estarem sozinhas umas com as outras, a não ser que fosse como massa de manobra. Então isso quer dizer que eu sou uma merda duma escrava outra vez?

 
A comunidade LGBTQ é perigosamente culpada de empurrar patriarcado e misoginia goela abaixo das lésbicas mulheres identificadas butch com pouco análise histórico, social e político e é hora de parar com essa merda. Eu nunca entraria num espaço especificamente criado para homens gays Negros e esperar que eles acomodassem minhas questões e demandas que eu fui prestada atenção porque eu sou oprimida. Porque embraçar nossos únicos corpos femininos e identidades causam tanto incêndio na comunidade LGBT e por que criar espaços separados para este discurso significa que estamos tentando minimizar ou diminuir diferentes membros da comunidade de identidade LGBTQ? Nós precisamos criar espaços para solidariedade LGBTQ assim como, espaços para a diferença. Diferenças não deveriam ser a fonte de disputas, mas uma abundância de beleza que celebra a todxs nós.

É hora de parar de mentir para nós mesmas, as crianças não estão bem/certas e há muito diálogo que necessita ocorrer sobre quem somos nós em essa comunidade LGBTQ assim como quais nossas necessidades. É hora de sair dessa cultura de medo que norte-americanos tão profundamente sofrem e por meio da qual funcionam. Um novo dia e tempo está sobre nós todas e estamos sendo pedidas para mover-nos e mudar ou sermos deixadas atrás na areia universal.

não é nosso papel educar ninguém sobre nossa opressão

“As mulheres de hoje ainda estão sendo chamadas a atravessar a fenda da ignorância masculina e educar os homens sobre nossas existências e nossas necessidades. Essa é uma ferramenta velha e arcaica usada por todos os opressores para manter as oprimidas ocupadas com as preocupações do senhor. Agora temos ouvido que é tarefa das mulheres de Cor educar mulheres brancas – frente à tremenda resistência – sobre nossa existência, nossas diferenças, e nossos respectivos papéis em nossa sobrevivência conjunta. Isso é um desvio de energias e uma trágica repetição do pensamento racista patriarcal (…) como Adrienne Rich afirmou em uma palestra recentemente, as feministas brancas empenharam-se enormemente em educar-se sobre elas mesmas nos últimos dez anos, então como não se educaram também sobre mulheres Negras e as diferenças entre nós – brancas e Negras – quando isso é a chave para nossa sobrevivência enquanto movimento?.”

– Audre Lorde, as ferramentas do mestre nunca vão desmantelar a casa grande

as solteiras e as lésbicas

“Qualquer ataque à solteira é inevitavelmente um ataque à lésbica. O direito das mulheres de serem lésbicas depende do nosso direito a existir fora de relacionamentos sexuais com homens. Quando as lésbicas são estigmatizadas e insultadas, então, também, todas as mulheres que vivem independentemente de um homem.”

— Sheila Jeffreys, The Spinster and her Enemies.

lesbianismo como pacto entre mulheres

Lesbianismo é… acima de tudo a prática de solidariedade fundamental entre mulheres. Toda nossa vida emocional é investida nas mulheres, para mulheres, com mulheres; nós não damos qualquer benefício para o opressor… Todas mulheres devem se tornar lésbicas, isso é, ganhar solidariedade, resistir, e não colaborar. Enquanto o lesbianismo for considerado um tipo diferente de sexualidade, enquanto “desejo” for pensado como vindo de um impulso desconhecido, a idéia de lesbianismo como escolha política será visto como inaceitável (Monique, 1980)
retirado de “The Social Construction of Lesbianism”, Celia Kitzinger. 1987.

Repetição

 

Moradora do Condomínio, uma favela no fundão do Jardim Ângela que fica exatamente no jardim Vera Cruz, é onde mora Paulão. Paulão só tinha até a oitava série por isso ganhava a vida construindo casas. O serviço era registrado em carteira de trabalho, mas Paulão sonhava com mais, sonhava em não ter patrão sonhava com autonomia. Então largou tudo e foi trabalhar com vendas ambulantes.

Camiseta listrada, bermuda, rabo de cavalo baixo preso pelo boné, com essa vestimenta foi para o centro da cidade de São Paulo, em frente a galeria do rock vender seus materiais:  cd´s com gravações em mp3 de discografia de diversos artistas. As dez da manhã chegam a primeira cliente e fala:

– Oi, você tem Siouxie And The Banshees?

– Não. Mas acho que você vai curtir esse som aqui ó: Joy Division.

A freguesa se empolga e compra e compras as discografias da The Cure, The Smiths e New Order. E Paulão faz vinte reais na primeira venda. Logo depois chega seu melhor amigo e concorrente o Igor. Juntos eles vendem diversos cd´s em MP3 de músicas de rap, MPB, mas a especialidade dos dois é mesmo o rock, por isso a escolha deste ponto. Duas da tarde foram almoçar em um restaurante que serve prato feito na av. Ipiranga, porque é o mais barato da região, custa sete reais e cinquenta centavos. No prato feito tinha arroz, feijão, ovo salada e até batata frita. Logo depois do almoço seguem para a praça ramos e acendem um baseado. Encontram por acaso Daiane, uma lésbica que trabalhava de operadora de telemarketing na Rua Dom José de Barros.

– E ai, como vocês estão?

– Tudo bom! Tenho uma novidade, meu eu virei camelô, to vendendo cd de mp3 da uma olhada aí

– To bom me mostra só os de rap

– Ta aqui ó

– Pronto já escolhi: Facção Central.

– Beleza, fica $5,00

– Ta na mão.

Paulão e Igor se despedem de Daiane e voltam para frente da galeria do rock e expõe seu material de trabalho. Quando de repente alguém grita:

– Olha o rapa! Olha o rapa! Olha o rapa!

Nem dá tempo de correr a polícia chega e enquadra os dois e Paulão diz:

– Aí não! Tem que ser feminina pra me revistar!

O policial sarcástico pergunta:

– Ué, você é homem ou mulher?

Com muita raiva de pertencer ao gênero feminino, por perceber a desigualdade com que é tratada, mas transmitindo calma, Paulão afirma:

– Sou mulher!

Não tarda a chegada da policia militar feminina. Pedem as notas fiscais dos cd´s e como não tem a policia apreende o material dos dois amigos vendedores ambulantes.

Com um sentimento de revolta misturado com impotência frustração e melancolia, Paulão volta ao extremo sul de São Paulo. Pede carona em um ônibus até o jardim Ângela e depois pede carona novamente até o jardim Vera Cruz. Quando desce no ponto de ônibus já ouve o som do funk proibidão estrondando, mas sabe que hoje não é dia de baile. Rumo ao seu lar, avista sua namorada Jessica com um grupo de amigas, passa e cumprimenta todas com um beijo no rosto e logo vai para a casa. Virou a esquerda, à direita e a esquerda de novo. Em frente ao córrego fica a porta de seu barraco. Quando entra avista único cômodo limpo e arrumado, sente que precisa relaxar e manter a calma. Só quer se desligar da realidade um minuto. Enquanto come assiste televisão.

Jessica chega em sua casa beija e abraça sua amada e Paulão lembra o doce da vida… E diz:

– Preciso te contar o que aconteceu

– Então fala

– Eu saí do serviço e fui trabalhar de camelô e ai a PM levou meu material hoje.

– Você o que?! Meu você enlouqueceu! Como assim largar um trampo firmeza pra ser camelô? Você ta doida!

– Eu não quero falar dos meus motivo agora

– Foi a pior merda que você fez, você não devia ter feito isso!

– Já falei eu não quero mais falar disso

– E agora, como agente vai pagar as contas, você não devia ter feito isso porra!

Paulão, irada grita:

– Chega! Não vou mais falar disso agora!

Paulão sabia que Jessica ia reagir assim, mas esperava dela um pouco mais de compreensão. Ela estava muito brava, bateu a porta do barraco e foi em direção ao bar do seu João. Não bebeu nada aquela noite, só assistiu os resultados dos jogos de futebol na última rodada, necessitava apenas de um lugar para esfriar a cabeça. Jessica foi tomar banho, muito preocupada com as contas a pagar, o mais imprescindível era o aluguel do barraco. Se qualquer coisa desse errado em sua vida de casal, Paulão poderia voltar a morar com a família, Jessica não.  Quando a mãe de Jessica descobriu que ela namorava com Paulão  ela levou uma surra tão grande que ficou roxa um mês, jogou suas coisas na rua e disse que não aceita dentro de casa filha sapatão.

Paulão chegou a sua residência viu Jessica só de toalha e decidiu se banhar também. Assim que terminou o banho se deitou ao lado de Jessica. O aroma que a nega exalava a hipnotizava queria ficar mais perto, mas depois daquela discussão receou-se. Seu instinto deu coragem e usou palavras pra mostrar sua vontade:

– Fica comigo?

– Não to afim!

Paulão abraçou Jessica de conchinha e insistiu ao pé do ouvido:

– Vamo gata aproveitar essa noite que na vida tudo passa

– Não quero to menstruada

– Eu não ligo te curto de qualquer jeito amor

Jessica já não tinha mais voz pra dizer não, apesar de seu corpo todo se opor, foi beijada. Paulão adorava suas curvas se deliciava com a maciez da pele a fragrância e a nudez ofertava a pujança que instigavam ter aquela mulher em suas mãos…

Satisfeito seu ego mais do que seu desejo Paulão, ao amanhecer foi dormir com o eco da voz que mais lhe condenou no dia anterior. Jessica gozou e antes de adormecer tinha certeza absoluta de que não queria ter transado aquela noite.

 

 

 

Por FORMIGA