visibilidade

“A visibilidade não é reformista quando não é busca de aceitação, mas sim mostrar que o sistema certo, correto e normal é inválido e não funciona. Se a visibilidade lésbica nós não existimos. Nossos sentimentos, nossos amores e nossas existências são apagadas e negadas. E como mesmo na invisibilidade nós somos de carne e osso, sofremos pra caramba. Então o lance do armário acaba funcionando de forma estratégica pra alguns, mas como forma de sufocamento pra outros. Sem lésbicas visíveis muitas de nós nem saberia o que é uma lésbica e poderia viver infeliz pro resto da vida sozinha ou ao lado de um macho, com muitas gerações fizeram pra se sentirem seguras. Hoje mais que em qualquer momento da minha vida eu levanto a bandeira da visibilidade lésbica e da quebra do significado simbólico do armário. Quero que todos vejam que sou lésbica, e que não sou o mito que eles inventaram.”

Aline Dias

 

as questões feministas não são questões de lésbicas

texto de monique wittig, traduzido por uma companheira.

monique wittig e outras lésbicas radicais foram expulsas da revista materialista feminista francesa, questiones feministes (questões feministas). o artigo é uma crítica ao que ela entende como uma tendência heterocentrada no movimento de mulheres francês e uma brincadeira com o nome da revista.
como o scan tinha problemas, a tradução tá com lacunas. Parece-se um pouco como a ler Safo. Em breve tentaremos disponibilizar o texto na íntegra.

(pdf) As questões feministas não são questões lésbicas

pensamentos sobre lesbofobia

Lesbofobia por parte de mulheres/feministas não passa de uma forma específica de misoginia do colonizado. Afinal a lesbofobia/ódio às lésbicas é uma forma de misoginia especial, serve à heterossexualidade compulsória e a mantêm, mantêm as mulheres na linha, ligadas à classe masculina. Tudo que indica separação dos machos é atribuído às lésbicas e tudo que é relacionado a possibilidade do separatismo e ao lesbianismo é visto como demasiado radical e extremo, demasiado ameaçador pro estatus quo, pra zona de conforto. O pensamento radical lésbico é então, demonizado e as lésbicas feministas queimadas na fogueira da misoginia, porque é ‘revolução demais’, é ir longe demais… isso não é permitido pro povo colonizado que são as mulheres. O pensamento lésbico representa então uma ameaça às bases do patriarcado, a heterossexualidade, logo a lesbofobia é uma forma de misoginia e de dominação sobre as mulheres para não permitir sair do cerco da heterossexualidade compulsória e as doutrinas perpetuadoras da sua ordem.

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a palavra lésbica pro queer e pro anarquismo/lésbicas anarquistas ou queer é nojenta. todo o tempo tentando apagar essa palavra, com queer, com masculinidades femininas, com o que for no lugar, podem se chamar de tudo menos de lésbicas. Essa palavra é mal vinda em todo lugar, até mesmo dentro do ‘feminismo’. ideologias profundamente lesbofóbicas e anti-lésbicas. sempre se colocando também contra relações profundas entre duas mulheres e patologizando como se fossem ‘monogamia’, ‘dependência’ e ‘feminilidade’, ‘possessividade’. Definitivamente as pessoas precisam entender que a realidade lésbica necessita uma epistemologia, análises, próprias, não podem importar da análise das relações heterossexuais. O contexto das relações e até mesmo das violências que se dão entre lésbicas está permeada pelo contexto lesbofóbico, tudo temos que ler tendo em mente a lesbofobia, até os supostos ‘ciúmes’ (insegurança num mundo de relações instáveis, de abandono familiar, de ataques a suas relações, de ser deixadas por lesbofobia internalizada, etc), isso não é pra desresponsabilizar, mas pra poder acolher esses casos todos sem reproduzir mais violencia lesbofobica contra essas sujeitas. E definitivamente: escrachos e difamações de lésbicas por terem tido relações difíceis e conturbadas (etiquetadas por autoridades morais cristãs do ‘feminismo’ – que as vezes está mais pra um movimento pela feminilidade – como relações ‘violentas’) é pura expressão de lesbofobia e ódio à lésbicas. Sempre a lesbofobia escondida das pessoas encontra um meio de se manifestar e aí nessas situações vem a tona, as grandes vontades de jogarem pedras nas sapatões. Como se fosse fácil pra estas construir modelos saudáveis num contexto de tanto ódio e ódio internalizado.
Meu compromisso é com as lésbicas.

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também: é lesbofobia idealizar as relações e realidade lésbica, e colocá-las de forma objetificada e fetichista como ocorre no lesbianismo político. é uma lesbianidade definida e colocada para o ‘het gaze’ para o olhar heterossexual, e não definida pelas mesmas, é uma lesbianidade fora de si mesma, definida por outras. é lesbofóbico idealizar e colocar tantas expectativas na lesbianidade e depois se voltar contra lésbicas porque não foram o paraíso idílico que estava posto pelo lesbianismo político ou por sua imaginação, como abrigos da supremacia masculina. sim que são abrigos no mais das vezes, mas essa existência e esses vínculos entre lésbicas e mulheres são fortemente atacados pelo patriarcado por representar uma ameaça direta a este, então logo é esperar demais de uma comunidade que sobrevive contra mil dificuldades, seria estranho se todas lésbicas estivessem bem, se não reproduzissem violências traumáticas deixadas pelo agressor, se não tivessem suas mentes conturbadas pelo contexto de violência em que vivem.

as lésbicas tem que ser obrigadas eternamente a performar e provar pro mundo suas relações, as relações lésbicas tem que ser perfeitas, tem que simbolizar tudo de ‘lindo e fofo’, ‘cor de rosa’ que se supoe que deveria ser as relações entre ‘mulheres’. Já que mulher né, é o sonho de feminilidade, bondade e doçura, assim deviam ser as lésbicas e suas relações. Aì quando as feministas encontram sapas feias, gordas, peludas e agressivas, bravas, elas detestam! E acusam a gente de ferir o feminsimo ou a imagem da lesbianidade!
Eu não tenho que provar nada para a heterorrealidade! Nos deixem com nossos problemas! Sâo séculos de massacre estamos tentando encontrar soluções e nos curar! E aceite: sem sua ajuda! Sem mais colonizador*s!