Projeto Memória Lésbica

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O projeto Memória Lésbica surgiu em agosto de 2019 como resposta política e cultural ao contexto de descaracterização do movimento de lésbicas pelo neoliberalismo sexual e de gênero representados pelo movimento LGBT/Queer. O chamamos assim, Memória Lésbica, por ser precisamente o diagnóstico que damos à situação do movimento lésbico de falta de conhecimento acerca da sua própria história, genealogia de luta, pensamento,existência e ancestralidade. O que nos deixa à mercê do vazio simbólico, no qual eternamente a história feminina é lançada no patriarcado, e nos transforma em pálidas versões das produções dos homens: o segundo sexo de seus movimentos; o L do lgbt, que nos dilui e nos desaparece em suas siglas e significados. Assim, sem conhecimento dos passos que nos antecedem, começamos sempre do 0, sem consciência e sem orgulho ou reverência pela tradição de resistência daquelas que vieram antes de nós e que nos permite estar aqui hoje.

Estamos num momento de esvaziamento do significado de palavras como “Lésbica” e “Mulher”, que designam experiências específicas e indissociáveis do seu caráter sexuado. Sem essas palavras e categorias é impossível uma luta política organizada e a manutenção daquilo conquistado pelas nossas antepassadas. A diferença sexual é ontológica à lesbiandade e estamos aqui para devolver às palavras seu conteúdo concreto. Entendemos o corpo das lésbicas como o território primeiro vital, que foi invadido e colonizado e que, através da lesbiandade, é defendido, retomado, recuperado, cuidado e sanado. O corpo das mulheres está em disputa em uma guerra, os femicídios e lesbocídios são diários. A heterossexualidade é a forma de ocupação masculina desses territórios explorados na reprodução compulsória, trabalhos de cuidado, maternidade, trabalho doméstico, prostituição, pornografia, gestação sub-rogada, abuso sexual infantil, etc.

A Lesbiandade não é uma mera orientação ou prática sexual como nos fizeram crer os patriarcas por meio de suas ideologias. A Lesbiandade é uma ação direta das mulheres de rebeldia contra a classe masculina, é a base ética de um modo de vida crítico ao sistema masculino. A lesbiandade é a recuperação dos laços entre mulheres: é priorizar e amar mulheres num mundo que nos odeia.

Queremos recuperar as nossas comunidades lésbicas e seu caráter político, cultural e ancestral. Recuperar nossas memórias de resistência e rebeldia, resgatando nossas raízes lésbicas e os legados deixados a nós pelas sapatonas ancestras, pautando novamente a potência radical da existência lésbica.

Temos por objetivo:

  • Produzir e transmitir política lésbica-feminista, pois entendemos que a falta de formação política é um elemento central da atual colonização do nosso movimento por homens e suas ideologias disfarçadas de progressistas. Logo, buscamos politizar as lésbicas e fomentar consciência e orgulho sapatão;
  • Impulsionar e fortalecer a cultura lesbica. Pensamos a arte como ferramenta de produção de ordem simbólica, que oferece novos sentidos à experiência feminina e cria um local onde podemos habitar;
  • Criar espaços separatistas somente lésbicos e uma economia entre lésbicas;
  • Recuperar o caráter político e radical do movimento de lésbicas;
  • Recuperar e preservar genealogias de luta e pensamento lésbico;
  • Destruir a Heterossexualidade como regime político. Consideramos esse regime a fonte da subjugação das mulheres à classe dos homens. Buscamos sua destruição pela libertação das mulheres;
  • Apoiar o aborto autônomo e sua descriminalização. A lesbiandade é o melhor contraceptivo: uma resposta mais radical que o aborto à violência do hetero-sexo. Porém, reconhecemos a força estrutural da cultura de estupro e compulsoriedade do coito, uma sexualidade desigual e centrada no prazer e poder masculino;
  • Cultivar a resistência lésbica, autonomia e autogestão sapatão;
  • Lutar pelo abolicionismo da prostituição, da pornografia e do gênero.
  • Lutar contra a pedofilia, inerente ao regime heterossexual;
  • Pautar e lutar contra o racismo, fomentando a consciência étnico-racial e reparação histórica entre lésbicas;
  • Alimentar  uma postura e uma práxis de vida anti-capitalista;
  • Defender o veganismo, o anti-especismo e a ecologia radical como fundamentais no movimento de lésbicas;
  • Lutar contra o lesbo-ódio, demandar justiça nos casos de lesbocídio, acabar com a impunidade.
  • Apoiar lésbicas encarceradas;
  • Apoiar os povos indígenas, defensoras essenciais da Planeta;
  • Apoiar as lésbicas caminhoneiras e promover seu reconhecimento como linha de frente da visibilidade lésbica e as mais oprimidas por motivo de lesbo-ódio;
  • Promover a lesbiandade como direito radical das mulheres ao próprio corpo e portanto, uma possibilidade para qualquer mulher viver e escolher. Promover o verdadeiro e real pertencimento do próprio corpo;
  • Fomentar a coletividade lésbica, redes de apoio-mútuo, a solidariedade sapatão/sororidade;
  • Colocar as lésbicas em primeiro lugar nas nossas políticas, frente ao heterossexismo do movimento feminista;
  • Pautar saúde lésbica alternativa, o auto-cuidado, a autodefesa, a alimentação vegana e a prática física como essenciais no fortalecimento das lésbicas e promoção do amor-próprio, necessários para resistir no patriarcado. Buscamos não apenas sobreviver, mas o bem-viver e a criatividade para além da opressão.
  • Somos internacionalistas, por isso pautamos a Abya Yala e nos conectamos com lutas lésbicas de outros territórios. Somos anti-imperialistas e anti-colonialistas (por isso, críticas ao queer). Somos anti-assimilacionistas, não buscamos inserção no sistema capitalista e patriarcal, como faz o movimento lgbt. Somos autônomas, não acreditamos que a agenda de direitos do Estado Racista patriarcal resolvera todos nossos problemas, e sim nossa auto-organização. Somos radicais, por isso vamos à raiz do problema e temos a coragem necessária para isso, pois nenhum reformismo acabará com o lesbo-ódio estrutural e cultural, nem trará dignidade real.
  • Somos lésbicas da diferença: desprezamos a igualdade com heterossexuais como um objetivo medíocre em relação a tudo que podemos transformar com o que somos, e não desejamos suas misérias/privilégios, seu sistema. Não acreditamos nos falsos direitos iguais que nos oferecem como se agora tudo estivesse melhor. Portanto somos críticas (não contrárias) ao casamento, por não validar outras formas de relações significativas e comunitárias. Somos contrárias a inseminação artificial por um mercado racista e elitista. Somos críticas da adoção (não contrárias) como é colocada pois não substitui políticas sociais reais e não entra em questões profundas de raça, classe, colonialidade, ilegalidade do aborto e quem são as mulheres que tiveram essas crianças, muitas presas, em situação de rua, dependentes química, indígenas, mulheres de países com crise humanitária e mulheres que perderam a guarda por motivos de vulnerabilidade. Somos anti-barriga de aluguel/gestação subrogada pois os corpos das mulheres vulneraveis não devem ser usados para gestar crianças para casais LGBT. Estamos pelos direitos da infância então nos importamos com estas nisso tudo, seus interesses e integridade psicológica, pois crianças são pessoas e não direito de casais. E por fim convidamos a refletir que esse desejo é construido pela pressão heteronormativa.  Estamos orgulhosas da diferença que representamos e não buscamos apenas sermos “normais”. Ao invés da família monogâmica, acreditamos na comunidade lésbica como forma de coletividade potente e subversiva. Valorizamos nossa dimensão anti-reprodutiva como ecológica. Não queremos que só possamos ter direitos migratórios, de saúde, herança, e validação dos nossos vínculos por meio exclusivamente do casamento. Também não desejamos inserção no serviço militar ou policial.
  • Somos contra escracho e cancelamento de lésbicas. Acreditamos em resolução de conflitos nas nossas comunidades que não passem pelo punitivismo, o qual apenas estimula a sabotagem material de uma população vulnerável e o lesbo-ódio. A demanda de que lésbicas sejam perfeitas e não errem é desumanizante, tal exigência se origina na misoginia mais antiga contra mulheres e lésbicas. E o cancelamemto é contrário ao ambiente democrático para que debates e reflexões necessárias ocorram.

Convocamos todas as lésbicas identificadas com essa proposta rebelde a fazer parte desse chamado a construção de um movimento que faça jus à potência da existência lésbica.

Memoria Lésbica
memorialesbica@riseup.net

Quarentena Lesbofeminista – grupo de leituras online de teorias lésbicas

Enquanto presenciamos a derrocada do patriarcado e o desenrolar do caos completo decorrente das necropolíticas ecocidas masculinas, do qual um vírus é somente uma das consequências, nós lésbicas radicais precisamos mais do que nunca criar territórios aquém e além da realidade masculina, deixando para trás definitivamente a normalidade heterossexista.

Convidamos todas as lésbicas interessadas a participarem da Quarentena Lesbofeminista – grupo online de leitura de teorias lésbicas. É um convite a explorarmos a potência do pensamento lésbico vital e sem amarras.

O isolamento social por conta da covid-19 nos obriga a ficar em casa, ou a reduzir nossa vida social. Mas para nós lésbicas a domesticidade, outrora desprezada, tem significado a redescoberta de uma liberdade, por fora da hostilidade do mundo externo masculino. Homens definiram o mundo público como o espaço da real-política, nós acreditamos no valor do íntimo, pois é na privacidade feminina que podemos confabular resistências e imaginar a reinvenção da vida longe das vistas do patriarcado.

Afirmemos a quarentena como oportunidade de nos retirar de vez: deixemos lá fora o vírus e a ordem simbólica masculina. A pandemia de coronavírus é expressão do fracasso do patriarcado. É agora mais que nunca a oportunidade de renegar seu mundo.

Convidamos as lésbicas a usarmos criativamente esse espaço potente que é a interioridade: ressignifiquemos desde um olhar sapatão como local de criatividade, prazer, autocuidado, crescimento pessoal e intelectual, ginoafeto virtual. E para aquelas de nós obrigadas a permanecerem isoladas com pessoas perpetuadoras de lesbo-ódio, é hora de apostar na criação de redes e de conexões e no poder da palavra entre mulheres. Estaremos criando ordem simbólica lesbiana e apreciação das nossas genealogias, aprendendo do pensamento autônomo de mulheres, por meio de encontros virtuais que recuperam a coletividade entre sapatonas para além das falsas fronteiras machistas que nos dividem.

Deixemos o mundo dos homens, suas políticas e problemas de fora. Essa crise não é nossa. Que mundo podem as lésbicas criar?


Os encontros ocorrerão por meio de videochamada em grupo a cada 15 dias na plataforma jitsi, escolhida por ser online e segura. O link da reunião virtual será enviado por e-mail às registradas. Este primeiro encontro ocorrerá dia 10 de maio (domingo) consistindo na leitura do texto de Susan Hawthorne “A Despolitização da Cultura Lésbica” – o pdf está em anexo na página e também está o texto para visualização online na página.

Por motivos de segurança contra a violência masculina (que pode ser física e virtual) pedimos que responda o formulário de registro.

Dúvidas escrever a: memorialesbicas@gmail.com

Jornada da Memória Lésbica – 24 de Agosto de 2019. Registros e manifesto

Este ano foi comemorado 50 anos da revolta de Stonewall, apesar de nunca mencionarem que foi uma insurreição  iniciada por uma lésbica butch Drag King, a Stormé DeLarverie. Mas essa é a nossa história como mulheres e lésbicas? Desde o … Continue reading

Intervenção Lésbica Radical na Caminhada Lesbitzyxetc… de Sp

POR UM MOVIMENTO AUTÔNOMO DE LÉSBICAS!!
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O que são as lésbicas?
Somos desobedientes à Dominação Masculina. A violência masculina é o maior problema planetário, dizimando espécies e recursos naturais, matando pessoas por meio de guerras e do capitalismo e racismo. Ser lésbica é escapar ao modo de ser ditado para a classe das mulheres, escapar à apropriação masculina.
Porque somos sapatonas?
Porque voltamos nosso amor, nosso desejo, nosso interesse, nossas forças para as mulheres. Ser lésbica é um ato de resistência, não é uma mera ‘preferência sexual’, pois tampouco é a heterossexualidade algo natural. A Heterossexualidade consiste em uma política de exploração e genocídio das mulheres.
Por que as mulheres são heterossexuais?
Porque são treinadas desde que nascem mulheres neste mundo patriarcal, para que sejam exploradas pelos homens por meio do sexo, afetividade e maternidade. Para que nunca possam escapar a sua condição de casta oprimida. Lésbicas rompem com esse processo de heterossexualização/feminização.
Porque deveríamos politizar nossa vivência sapatão?
Porque uma lésbica já é uma feminista/radical em potencial. Mesmo que não conscientemente, as punições (lesbofobia) que recebemos se deve à insubmissão e ameaça que representamos para o Poder dos Homens. Se deve ao potencial radical que cada lésbica carrega nas suas existências que são pura rebeldia, fortalecendo uma cultura e laços de apoio mútuo entre mulheres. Recusamos a feminização enquanto processo de violência obrigatório que cada mulher sofre desde que nasce neste mundo patriarcal.
Por que nos recusamos a fazer parte do movimento GGGG/LGBT? 
Porque esse movimento não serve nem beneficia às lésbicas e nossa luta não é ao lado dos homens gays que também são machistas. Este movimento não procura ser revolucionário mas sim incluir-nos no sistema patriarcal e capitalista e não destruí-lo. Porque acreditamos que essa perspectiva anula a força política que existe na recusa de se relacionar com homens, com a classe opressora, mascarando o fato de que a heterossexualidade é um regime de dominação violento: temos como resultado da política heterossexual/supremacista masculina no mundo estatísticas gritantes de feminicídios, falecimentos por violência doméstica, estupros, abuso sexual infantil, tráfico de mulheres e meninas para fim de exploração sexual, e muitas outras atrocidades pelo mundo. Além disso, lésbicas são punidas por meio do estupro corretivo e assassinadas a cada momento. Estas são provas do ódio da classe masculina pelas mulheres e lésbicas.
Não nos basta sermos integradas a esta sociedade patriarcal capitalista-racista que se sustenta da nossa exploração. Queremos OUTRA realidade e outro modo de vida. Nossa existência é a própria resistência. 
O movimento GGGGAY não serve as lésbicas. Não queremos desaparecer na ‘sopa de letrinhas’ nem dar nosso tempo a homens. LGBT é um movimento dominado pelos machos gays e para beneficiar a estes. Tire o L do LGBT!
A política lésbica é um ataque radical a supremacia masculina. Estão enfraquecendo essa política por meio da sua transformação em mais uma mera diversidade sexual.
Por que um movimento autônomo de lésbicas?
Lésbicas precisam de espaços próprios para fortalecer sua luta e priorizar suas existências. Vamos gerar e multiplicar mais e mais espaços de resistencia lésbicos! Precisamos fortalecer espaços exclusivos e apenas de lésbicas para termos nossas pautas discutidas e criar outro mundo. LÉSBICAS POR E PARA LÉSBICAS! Bissexuais e outras categorias podem se organizar autonomamente em seus próprios espaços. Bissexuais não possuem radicalidade pois se relacionam com a classe opressora. LÉSBICAS EM PRIMEIRO LUGAR!
O que é a lesbiandade radical?
Acreditamos que a lesbiandade é uma estratégia política radical contra a estrutura de opressão que vivemos, já que ela atinge mais diretamente o regime da heterossexualidade. Nós queremos a destruição desse sistema de dominação, não queremos ser aceitas, nem ser toleradas. Escolhemos ser um risco a supremacia masculina, queremos ser uma ameaça.
Por um lesbianismo radical!
JUNTE-SE A ESSA RESISTÊNCIA!
FÚRIA LÉSBICA!
dia 6/6, 12h.
concentração: praça do ciclista, avenida paulista, SP
oficina de confecção de cartazes lésbico-radicais, máscaras combativas, tambores, stencil, feirinha lesboterrorista.
venham compôr a bloca com a gente!