Onde está a palavra LÉSBICA?

A palavra lésbica e seus espaços exclusivos vem sendo omitidos, excluídos, atacados, difamados, apagados dentro dos espaços e discursos feministas hegemônicos. Isso acontece porque a lesbiandade é uma proposta rebelde que o sistema patriarcal não comporta, e portanto os feminismos bem-comportados, reformistas, subordinados às prerrogativas masculinas, não bancam nem querem bancar enquanto proposta política crítica que consegue até mesmo ir para além do próprio feminismo em potencial transformador.
Essa omissão da lesbiandade e as tentativas de suavização dessa política, além da submissão do feminismo na tentativa de ser aceitável aos homens, ocorre como consequência da própria opressão das mulheres e como reflexo fiél da Heterossexualidade Compulsória. Damos o nome de ‘heterofeminismo’  a toda suposta manifestação de ‘feminismo’ que se encontra atravessada pela lógica heterossexual – a lógica de que mulheres pertencem aos homens, de que homens devem ter acesso irrestrito aos nossos corpos, territórios e vida, a doutrina sistemática de que a relação entre opressores e oprimidos homem e mulher são inevitáveis, naturais e produtos do ‘desejo’ e não relações políticas de dominação. O tal desejo heterossexual não passa de uma tentativa de naturalização de uma relação de opressão entre os sexos. Esse “desejo” – quando existe (se é que existe) – é construído e doutrinado e forçado por uma série de mecanismos políticos: educação, mídia, família, terror psicológico. As mulheres se relacionam com homens porque eles detêm os recursos para sobrevivência destas em todo o planeta, sendo eles quem detêm poder político, recursos materiais, condições econômicas e simbólicas. Portanto o consentimento das mulheres nas relações heterossexuais é produzido pela relação de poder entre classes sexuais nas quais estas se encontram. 
Esses ‘feminismos’, resultados da colonização das mulheres como grupo pelos homens, não pretendem qualquer desafio real e radical à supremacia masculina, senão que pede por meras reformas e algumas  negociações com o Poder, além da reforma impossível dos nossos agressores e opressores. Não cosideramos nossa liberdade negociável com os patriarcas.
Tendo em vista que os espaços feministas são dominados pela heterossexualidade dominante e hegemônica, se torna confortável para a ordem patriarcal, que também se expressa nesse feminismo que sejamos colocadas sempre ao lado das bissexuais e de mil outras categorias políticas, enquanto uma “Diversidade Sexual” na ampla gama de cores de um alegre arco-íris, de modo a abafar o ruído e o estrondo que a palavra lésbica promove, de modo a esconder que a possibilidade de uma existência sem homens, também escondendo que a lesbiandade é uma condição política muito mais rebelde e subversiva do que qualquer outra dessas categorias do GBTTQIetc que não apresentam qualquer ameaça ao Patriarcado, se não é o caso de que as mantêm: se bissexuais mantêm a instituição da heterossexualidade, trans e travestis mantêm o genero e homens gays são homens.
Somos deslegitimadas e tratadas como diversidade sexual e não como mulheres que fugimos da condição de subordinada e recusam a relação com os opressores, como se fizéssemos parte de uma ampla gama de meras práticas sexuais e “identidades” – muitas vezes supremacistas masculinas como sadomasoquismo, “prostituição”/estupro pago de homens sobre mulheres vulnerabilizadas, abuso sexual infantil, heterossexualidade/bissexualidade, e outras – aparentemente coexistentes entre si e com o sistema, nos definindo novamente enquanto sexo. Lésbicas não somos Diversidade nem festa, somos pura fúria contra os patriarcas. Enquanto expressão política da Sexualidade da Desigualdade, jamais haverá revolução enquanto mantemos a Heterossexualidade intacta e inquestionada. Queremos destruí-la pela autonomia das mulheres!
O feminismo hegemônico/heterossexual é resultado da colonização dos homens. A prerrogativa heterossexual se expressa em como estes feminismos, ao invés de constituírem-se em um movimento feminista autônomo em si, termina prestando-se como ferramenta de homens gays (LGBT/Queer/Liberalismo Sexual) ou homens de partido ou homens em cargos de governo ou machos da esquerda anarquista e marxista, na ilusão de que poderá galgar alguma ascensão dentro das estruturas do Poder Masculino. Isso representa o que a Supremacia Masculina consegue fazer com todos desafios à sua ordem: absorver as resistências e tranformá-las em auxiliares do Opressor, desvitalizando a rebeldia e impedindo a radicalização das lutas. 
Vemos a lesbiandade como resposta enquanto ética radical de identificação entre mulheres e de descolonização, e como paradigma do que é o feminismo levado às últimas consequências. Enquanto um certeiro ataque à falorealidade, representa o rompimento/separação com a Cultura Masculina, consistindo para além de mero afeto sexual , na criação de outra realidade, outra existência para nós. Escolhemos a lesbiandade revolucionária porque vemos ela enquanto único desafio sério à colonização masculina.
Não podemos querer revolução se não revolucionamos o íntimo, o privado e o público. Se não nos propomos verdadeiramente a uma mudança radical e total, assumindo-nos como contra-ataque e reagindo com a nossa união, nos conectando com nossas iguais, criando uma comunidade lésbica que nos dê a segurança de saber que não estamos sós, que somos muitas, mesmo que muitas de nós ainda estejamos isoladas, não venceremos o heteropatriarcado. Precisamos nos unir para revolucionarmos, para colocarmos em prática o nosso contra-ataque. Necessitamos uma lesbiandade combativa contra o Terrorismo Masculino.
A proposta dessa virada lésbica é ser uma intervenção que traga a discussão da lesbiandade – uma ferramenta de luta e existência por fora da realidade masculina – e crie um espaço lésbico alternativo, questionando a exclusão da palavra lésbica por parte do feminismo hegemônico e sua lógica heterossexual, e propondo a união entre lésbicas.
Mesmo no meio feminista ainda precisamos pedir licença para existir, e nosso nome – lésbica, sapatão, caminhoneira – não pode aparecer sozinha e em todo seu estrondo e potência. Por isso, nos convidamos onde não somos convidadas, aparecemos, nos visibilizamos, assumimos nós mesmas o papel e o desafio de gerar esse espaço.
O medo da lesbiandade radical e o ataque às lésbicas, as tentativas de distorção e suavização dessa palavra – Lésbica – é um ataque sempre ao que representa a possibilidade de rompimento com homens, evento extremamente ameaçador aos patriarcas. A hostilidade com o feminismo lésbico e a negação de espaços exclusivos é para impedir que mulheres alcancem o estado político e consciência necessária para derrubar de fato o regime de dominação masculina e para transformar suas vidas agora, neste exato instante, sem esperar por mudanças estruturais ou politicas públicas que apenas colocam um esparadrapo no problema, revolucionando sua vida desde o privado e cotidiano.
Não podemos agir em direção à revolução se nos baseamos nas mesmas estruturas que nos oprimem. Tudo que for criado nas estruturas do sistema patriarcal-capitalista-racista-elitista será exatamente como ele (casamento gay, adoção, etc, acomodação ao modelo familiar heterossexista), por mais que a aparência seja diferente. As correntes assim se afrouxam e dão a falsa impressão de liberdade, mas somente estamos nos movimentando dentro do cercado bem delimitado pelos patriarcas, o que  nos mantêm domesticadas e não-ameaçadoras.
Vamos quebrar as correntes que nos prendem ao heteropatriarcado, vamos destruir os laços que ainda nos unem a essa sociedade que nos enfraquece, que barra a nossa voz! FÚRIA LÉSBICA!
Por isso tudo vamos intervir na virada feminista, reunindo as lésbicas interessadas em pensar e viver uma lesbiandade radical, como estratégia de luta, amor e vida!
O FEMINISMO SERÁ LÉSBICO/RADICAL* OU NÃO SERÁ.
SE NÃO FOR SEREMOS LÉSBICAS RADICAIS.
HERESIA LESBICA
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* lésbico = radical. Diferentes palavras para designar a mesma coisa
(versão integral do panfleto distribuído durante a intervenção “Virada Lésbica” durante a Virada Feminista realizada no CCJ em São Paulo em junho de 2015.
Baixe o panfleto aqui: http://heresialesbica.noblogs.org/files/2015/03/virada-panfleto-verso.pdf )

Fúria Lésbica! Fotos do bloco lésbico radical na ex-caminhada lésbica

Na caminhada lésbica e bissexual de SP, fizemos uma intervenção por meio de novamente, reaparecer com nossos chapéis de bruxa e mascaradas. Levamos nossa faixa “Lésbicas Radicais contra o Capital e o Estado Racista Patriarcal” e tambores de latão, lambes, stencil, feirinha de materiais lesboterroristas, máscaras. Na concentração e durante a marcha do nosso bloco podiam-se ouvir os gritos:

“Vem caminhão vem fazer revolução!(Toda feminista pode ser uma sapatão!)”
“Lésbicas Separatistas! Sapatonas convictas! (Eu não vou deixar o Patriarcado me abalar!)”
“Sapatão não é diversidade! Sapatão é resistência!”
“Tire o L do LGBT!”
“Lésbica Radical contra o sistema Patriarcal!”
“Basta já de repressão/pela Santa Inquisição!/Botar Fogo nas Igrejas e Libertar as Sapatão!”
ao passarmos ao lado de uma churrascaria: “Lésbica Radical! Contra a Exploração Animal!”
“Sapatonas contra as Guerras! Sapatonas contra o Capital! Sapatonas contra o Racismo contra o Terrorismo Neoliberal!”
“Sapatona! Sou sapatona! Porque quero ver o Patriarcado em chamas!”
“Acorda! Mulher! Vire sapatão! O homem é machista e ele não vai mudar não!”
“É nossa escolha! A vida é nossa! Eu escolhi amar mulheres! Lesbianize! Radicalize! A vida é nossa! É nossa escolha! Eu escolhi amar mulheres!”
“Não! Não! Lesbofobia não!”
“Odeio homem! Beijo mulher! Beijo mulher beijo mulher beijo mulher!”
“Fúria Lésbica!”

A intenção da ação era provocar e gerar um espaço contestatário à lógica liberal e pouco combativa da caminhada lésbica deste ano, renomeada como caminhada ‘les-bi’. Para opôr as cores do arco-íris LGBT, a cor preta da autonomia das nossas faixas e o lilás feminista/lésbico, auto-explicativos. As máscaras para nos proteger e permitir ousar, mostrar que nossa lesbiandade é de luta, e visibilizar a resistência. Gritando a palavra lésbica, sapatão, mostrar que os espaços lésbicos vivem, e não vão desaparecer!

Sempre atrás, quando a marcha chegava ao final, tomamos a frente dela cantando “Sapatão não é diversidade! Sapatão é resistência!”

Logo mais um relato mais detalhado da experiência.

Karta pra lésbika de kor

Salve mana!

Tua escrita é um registro de saberes antigo do nosso povo, ke delatam sékulos e sékulos de invasão, kolonização, genocídio, sekuestro, eskravidão, miscigenação  (falo de miscigenação komo violência racial por estrupro kontra mulheres indígenas e afrikanas ter tido o aval da Igreja Katólika no komeço da kolonização na Amérika portuguesa e o plano de brankeamento da população negra arkitetato por racistas brasileiros no sékulo XIX ke trouxe migração europeia pra o país), falsa abolição… Saberes de resistência ancestral nos ajuda a kontinuar akreditando ke o amanhã será melhor porke ontem muita gente morreu pra ke agente sobrevivesse. Nossas mães, nossas avós, bisavós e tataravós ke traziam nas peles pretas e vermelhas os dokumentos de nossa história de luta não podemos deixar isso passar em branko! Sapatão precisa dessa referência ke usa o negro da tinta pra manchar o papel branko kom letras ancestrais. Porke na moral pra saber kem agente é é preciso olhar pro passado. Komo ke agente pode gostar de uma mulher se agente não souber ke lésbika existe? Toda vez ke você sai na rua mostrando a kara ajuda uma lésbika a resistir, tipo igual e eskrita lésbika de kor. Se a família, a alma, a terra, nossa kultura milenar foi negada a noiz, a eskrita então piorou tá na mão dos patriarkas brankos e heteros. Nossas letras ancestrais são orais e agora agente vai tomar de assalto o papel e a kaneta pra história ser kontada pela nossa visão. Pra gente garantir ke as nossas no futuro tenha konhecimento di kem agente é e não no ke o kolonizador ker ke agente seja, entende. Lésbika e ancestralidade: lembro do itãn de Oxum e Iansãn. Tem também as ikamiabas guerreiras indígenas ke viviam numa tribo só de mulheres. Solidão da lésbika negra é embaçado. Tá relacionado kom racismo profundamente. Ao passo ke sobre a lésbika negra rola o fetiche kausado pela hiperssexualização da mulher negra, akontece também o abandono por uma lésbika branka ke não ker apresentar uma lésbika negra pra sua família. Essa solidão tem um impacto profundo nas nossas subjetividades e nas prátikas afetivas, talvez dai vem um jeito de amar esfomeado, desesperado, karente já ke esse amor é tão raro ou até mesmo a depressão e o isolamento. Mas por outro lado o amor romântiko é uma konstrução social utilizada pra o kontrole feminino. A maioria das nossa estão sobrevivendo em favelas e periferias trampando em subempregos tipo telemarketing. São poukas ke tem um estudo em uma universidade. Tem mana ke pela fome ou pela ilusão de ostentação ke o konsumo dá mete us kano na kara dos playboy, tem umas ke trafika e outras ke rodou e tão tirando uns dia. A inklusão na sociedade através do ter nunka vai sei efetiva. É logiko ke agente precisa de um konforto material, mas o kapitalismo é hierárkiko tá ligada. Pra existir privilégio tem ke existir kem não tem privilégio: o povão. O padrão e o patrão é branko, se você ligar a tv vai ver ke o poder kultural, polítiko, intelectual, financeiro, científiko é da elite branka. Então a pobreza e a miséria tem kor e parece kom agente. A únika solução ke eu vejo é a revolução! Uma transformação ke depende de kada uma. É  a revolução do kotidiano ke eu tô falando, reedukação, kritika e rompimento kom padrões de kontrole desta sociedade onde o homem branko riko e hetero é o o modelo. O ke mais parece kom esse padrão tem mais acesso ao sistema. Totalmente ao kontrário da gente. Vamo lá mana agente não tem nada a perder só a ganhar, ganhar a liberdade! Se você ker uma revolução komece em você mesma. Uma vez uma parceira me falou ke os revolucionários se importava kom o ser. Pra mim ser é ouvir os próprio desejos e kompartilhar o ke tem de bom. É fazer o ke tem vontade. Tipo sapatão sabe?! Sentir vontade de ganhar um karinho dakela mana e chegar nela mesmo tendo medo de tomar uma bota. Ação direta meu é entender a realidade e fazer alguma koisa pra mudar. Ser ao kontrário do ke o padrão manda é bater di frente kom o sistema é se rebelar, por isso ke sapatão é uma potência revolucionária. Já reparou ke o certo nessa sociedade e mulher kom homem? Agente por instinto, escolha ou decepção ker fikar só kom mulher. Muitas já nem se chamam mais de mulher se denominam sapatão, lésbika, entendida, fancha, kaminhoreira, lesbiana, butch. A minha função na derrubada do patriarkado é a lesbianidade. Lesbianidade pra mim é ganhar um karinho di noite de uma kompaheira, ter alguém pra dividir a vida. Lesbianidade também é auto kuidado, autokonhecimento, amor próprio. É kuidar das raízes, é respeitar ke kuando o berimbau toka tá mantendo viva a história de nosso povo: lembrando as dores, nos mostrando os perigos do kaminho, nos ensinando a respeitar as mais velhas e as mais novas e a celebrar a vida, celebrar a vida lésbika é lesbianidade. Falo da kapoeira porke kapoeira é igual a vida ke é loka: uma hora agente se eskiva de um pé nervoso, outra agente ataka, outra agente brinka, outra agente luta, outra agente engana, outra agente tenta não deixar se enganar pedindo sempre a proteção da deusa a labrys é meu patuá. Porke lésbika de kor lésbika negra agente vive no korpo. E é tembém ser fechada kom as irmã,  bolar e exekutar os planos antipatriarkado, é ser guerreira e defender a koletividade. Mana lembra sempre de onde você vem pra tá ciente do seu valor de kem você é. E ai então vamo fazer valer a pena pra não mais sobreviver mas pra super viver. Espero ke essas palavra te fortaleça mais ainda.

Valeu

por FORMIGA

Intervenção Lésbica Radical na Caminhada Lesbitzyxetc… de Sp

POR UM MOVIMENTO AUTÔNOMO DE LÉSBICAS!!
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O que são as lésbicas?
Somos desobedientes à Dominação Masculina. A violência masculina é o maior problema planetário, dizimando espécies e recursos naturais, matando pessoas por meio de guerras e do capitalismo e racismo. Ser lésbica é escapar ao modo de ser ditado para a classe das mulheres, escapar à apropriação masculina.
Porque somos sapatonas?
Porque voltamos nosso amor, nosso desejo, nosso interesse, nossas forças para as mulheres. Ser lésbica é um ato de resistência, não é uma mera ‘preferência sexual’, pois tampouco é a heterossexualidade algo natural. A Heterossexualidade consiste em uma política de exploração e genocídio das mulheres.
Por que as mulheres são heterossexuais?
Porque são treinadas desde que nascem mulheres neste mundo patriarcal, para que sejam exploradas pelos homens por meio do sexo, afetividade e maternidade. Para que nunca possam escapar a sua condição de casta oprimida. Lésbicas rompem com esse processo de heterossexualização/feminização.
Porque deveríamos politizar nossa vivência sapatão?
Porque uma lésbica já é uma feminista/radical em potencial. Mesmo que não conscientemente, as punições (lesbofobia) que recebemos se deve à insubmissão e ameaça que representamos para o Poder dos Homens. Se deve ao potencial radical que cada lésbica carrega nas suas existências que são pura rebeldia, fortalecendo uma cultura e laços de apoio mútuo entre mulheres. Recusamos a feminização enquanto processo de violência obrigatório que cada mulher sofre desde que nasce neste mundo patriarcal.
Por que nos recusamos a fazer parte do movimento GGGG/LGBT? 
Porque esse movimento não serve nem beneficia às lésbicas e nossa luta não é ao lado dos homens gays que também são machistas. Este movimento não procura ser revolucionário mas sim incluir-nos no sistema patriarcal e capitalista e não destruí-lo. Porque acreditamos que essa perspectiva anula a força política que existe na recusa de se relacionar com homens, com a classe opressora, mascarando o fato de que a heterossexualidade é um regime de dominação violento: temos como resultado da política heterossexual/supremacista masculina no mundo estatísticas gritantes de feminicídios, falecimentos por violência doméstica, estupros, abuso sexual infantil, tráfico de mulheres e meninas para fim de exploração sexual, e muitas outras atrocidades pelo mundo. Além disso, lésbicas são punidas por meio do estupro corretivo e assassinadas a cada momento. Estas são provas do ódio da classe masculina pelas mulheres e lésbicas.
Não nos basta sermos integradas a esta sociedade patriarcal capitalista-racista que se sustenta da nossa exploração. Queremos OUTRA realidade e outro modo de vida. Nossa existência é a própria resistência. 
O movimento GGGGAY não serve as lésbicas. Não queremos desaparecer na ‘sopa de letrinhas’ nem dar nosso tempo a homens. LGBT é um movimento dominado pelos machos gays e para beneficiar a estes. Tire o L do LGBT!
A política lésbica é um ataque radical a supremacia masculina. Estão enfraquecendo essa política por meio da sua transformação em mais uma mera diversidade sexual.
Por que um movimento autônomo de lésbicas?
Lésbicas precisam de espaços próprios para fortalecer sua luta e priorizar suas existências. Vamos gerar e multiplicar mais e mais espaços de resistencia lésbicos! Precisamos fortalecer espaços exclusivos e apenas de lésbicas para termos nossas pautas discutidas e criar outro mundo. LÉSBICAS POR E PARA LÉSBICAS! Bissexuais e outras categorias podem se organizar autonomamente em seus próprios espaços. Bissexuais não possuem radicalidade pois se relacionam com a classe opressora. LÉSBICAS EM PRIMEIRO LUGAR!
O que é a lesbiandade radical?
Acreditamos que a lesbiandade é uma estratégia política radical contra a estrutura de opressão que vivemos, já que ela atinge mais diretamente o regime da heterossexualidade. Nós queremos a destruição desse sistema de dominação, não queremos ser aceitas, nem ser toleradas. Escolhemos ser um risco a supremacia masculina, queremos ser uma ameaça.
Por um lesbianismo radical!
JUNTE-SE A ESSA RESISTÊNCIA!
FÚRIA LÉSBICA!
dia 6/6, 12h.
concentração: praça do ciclista, avenida paulista, SP
oficina de confecção de cartazes lésbico-radicais, máscaras combativas, tambores, stencil, feirinha lesboterrorista.
venham compôr a bloca com a gente!

RELATO DE VIOLÊNCIA LESBOFÓBICA E CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DENTRO DO ATO DO 8 DE MARÇO DE SP E REFLEXÃO SOBRE O ÓDIO AS LÉSBICAS DENTRO DO MOVIMENTO FEMINISTA ATUAL

[agradecemos a difusão desta nota]

No ato do 8 de março em São Paulo pelo Dia Internacional das Mulheres, que ocorreu neste último domingo em SP, Lésbicas Radicais Autônomas foram agredidas por militantes da FLM (Frente de Luta por Moradia). Levando panfletos e uma faixa escrito “Lésbicas Radicais contra o Capital e o Estado Racista Patriarcal” lembrando a necessidade da luta contra todos sistemas simultâneos de opressão originados pelo Macho, as ativistas lésbicas tentaram encontrar lugar na marcha, um pouco logo ao final. Logo atrás das sapatões autônomas estavam os militantes da FLM, homens e mulheres. Logo de início no ato, assim que as sapatonas entraram na via com a faixa sobre lesbianidade, um casal de namoradas do grupo de lésbicas autônomas que estavam de mãos dadas foram agredidas sem nenhum motivo  por um homem que compunha o FLM. Ele empurrou brutalmente as duas companheiras para trás, socando contra o peito delas, mandando-as sair do ato,  num ato nitidamente lesbofobico pela tentativa de interromper a expressão de afeto das duas. O esquerdomacho foi repreendido pelo seu colega de militância, nisso o agressor disse que não se importava que fossem mulhere“ia descer a porrada de qualquer jeito”.

 

Quando o agressor notou que as pessoas começaram a repreendê-lo mais, ele usou a intervenção artística – que consistia em estarem apresentadas com máscaras e chapéis de bruxa – como desculpa para bater no casal de ativistas lésbicas, tentando mobilizar @s demais militantes contra nós. A intervenção em questão consistia na vestimenta que trazíamos de máscaras e chapéis de bruxa desenhadas com papel, remetendo à historia das mulheres resistentes e da autonomia e rebeldia feminista. Também consistia em uma ação política legítima de auto-defesa feminista, pois há um motivo muito razoável para cobrirmos nossos rostos: a lesbofobia e o estado de guerra contra as mulheres e lésbicas no Patriarcado. Optamos pelas máscaras como uma tática de segurança, seja pela violência, seja porque entre nós haviam lésbicas em várias profissões e ambientes de trabalho lesbofóbicos, sendo que o panfleto que levávamos se tratava justamente de como a sobrevivência de lésbicas se encontra ameaçada pela lesbofobia e discriminação.

 

Irmos mascaradas significa a declaração de nossa autonomia feminista e a recuperação de nossas corpas lésbicas para nós: negar a sociedade de imagem em que vivemos e barrar o acesso a nossas corpas e sua exposição e de nossos rostos na mídia patriarcal burguesa, o que consideramos um ato de violência e invasão, também de modo à trazer atenção para nossa faixa e não para nossas caras. Além disso, gostaríamos de lembrar da perseguição e hostilidade contra idéias radicais que existe na nossa sociedade que se encontra num processo de facistização cada vez maior, e por outro lado, dentro do próprio movimento feminista que vem se mostrando extremamente hostil às lésbicas, utilizando violências e táticas de difamação de companheiras e das idéias lésbicas radicais e distorção, destruição da memória feminista de modo a dissociar lésbicas do feminismo em prol de fazer política de ‘maiorias’ e manipular lésbicas com culpa por lutarem por e para si mesmas e por sua pova lésbica, terem vergonha de sua auto-organização e ameaçarem seus espaços exclusivos, além de típica reversão dos lugares de agressor e agredida (gaslightining) contra lésbicas radicais, mostrando seu caráter colaboracionista e mantenedor da opressão das mulheres em prol da reforma de machos. Assim, as lésbicas tem que se defender de violências vindas de dentro e fora do movimento igualmente.

 

A utilização do pretexto da máscara abriu espaço para a perseguição política, e assim o FLM se mostrou como verdadeiros coxinhas, polícia vermelha dentro da manifestação, declarando seu ódio a todo tipo de ativismo radical. Começaram a ameaçar de nos entregar para a polícia, e diversas tentativas foram feitas de conversar e explicar que se tratava de uma intervenção artística e uma questão de segurança e não num ato de vandalismo, eles não desistiam: estava claro que queriam desmobilizar a nossa ação. Num dado momento fomos para umas escadarias por acharmos o ‘estar dentro’ da marcha cheia de bandeiras partidárias e homens incômoda, além da estética da ‘participação’ nos incitar o desejo de encontrar um lugar mais marginal e contestatário. Então escolhemos um lugar de visibilidade maior de modo a que toda a marcha visse nossa mensagem e fomos segurar a nossa faixa no alto de umas escadarias na avenida Paulista. Os militantes nos perseguiram até aí. Quando entramos novamente no ato, nos perseguiram novamente, todas vezes que tentamos sair de perto deles, insistindo que tirassemos as máscaras, homens e mulheres, tentando nos atrapalhar. Num dado momento começaram a nos filmar, e nós à eles. Mais uma vez de forma lesbofobica tentaram implodir nossa intervenção criminalizando a existência lésbica naquele espaço

 

Como se não bastasse a agressão inicial tivemos que lidar com a perseguição desse grupo. O agressor chamou vários outros machos enormes do FLM para nos perseguirem, e quando dizemos perseguição queremos dizer que o nosso agressor, suas e seus cúmplices ficavam a menos de meio metro de nós. Diversas mulheres e seus captores/maridos/companheiros de militância ficaram nos perseguindo durante a marcha, incluindo o agressor, dizendo “que estavam de olho”, afinal, a gente era o único grupo somente de lésbicas visíveis durante o ato rompendo com o regime e agenda heterossexual. Tudo isso foi registrado em filme pelo casal de ativistas lésbicas.

 

Diversas feministas estavam fantasiadas, com roupa, sem roupas, de máscaras ou sem, mas somente contra nosso grupo ele agiu dessa forma violenta, totalmente lesbofóbica. Isso não justifica a culpabilização da vítima por estarmos mascaradas, temos direito a nossa expressão política e a segurança e medo das mulheres e lésbicas nunca deve ser subestimada sob um Patriarcado. Não é Não. Não podem nos obrigar o acesso a nossos corpos. Auto-defesa feminista nunca é exagero. Se a questão fossem as máscaras mesmo ninguém precisava apanhar, era só chamar a comissão organizadora, e esta nao viu problemas dado que eram apenas mascaras infantis de papelão e que os motivos de nao querermos sair na midia eram óbvios. Queriam bater nas sapatão  por um motivo apenas: Lesbofobia.

 

As agressões e perseguição pararam somente com ação (eficaz) da comissão de segurança da marcha do 8 de março, composta por coincidência por algumas sapatonas conhecidas, que buscamos quando esgotadas as tentativas nossas de diálogo e resistência ao assédio lesbofóbico e coxinha. Elas falaram para que mantivessemos nossa intervenção e levaram o agressor até o metrô o expulsando da marcha para ter certeza de não comprometer a segurança. Parabenizamos aqui a ação e sororidade das companheiras.

 

Porém queremos deixar a reflexão de que em nenhum momento qualquer mulher à nossa volta, além da comissão de segurança, teve a decência de se sororizar e não se mostrar indiferente à agressão que estávamos sofrendo, e de ajudar a compôr resistência, nós tivemos que nos proteger sozinhas como sempre.  Os homens estavam fisicamente nos ameaçando e entrando no meio da gente. Pedimos ajuda às mulheres em volta, as agredidas gritaram que haviam sofrido agressão, nenhuma se comoveu e não houve o princípio feminista “Se agridem a uma – respondamos todas”, mesmo que as militantes à nossa volta segurassem faixas sobre combate à violência contra mulher. Se a teórica lésbica Monique Wittig dizia que lésbicas não eram mulheres, parece que as companheiras heterofeministas tem isso bastante claro de que estamos excluídas de sua agenda política e que lésbicas não são prioritárias nem sua questão no movimento feminista, e que se lésbicas são agredidas, elas não saem a nos defender como se pede a lésbicas que façam pelas mulheres, que têm sua energia lésbica extraída e demandada pelo movimento de mulheres tornando o separatismo um ato de heresia temido e criminal, que recebe muitas difamações e acusações de misoginia e abandono das ‘mulheres’ nos acusando de portar falsos privilégios de não dormir com o opressor.

 

Apesar da expulsão do agressor, queremos lembrar que a expulsão de um agressor não é o suficiente para garantir a segurança das mulheres e lésbicas, uma vez que a classe dos homens como um todo é inimiga das mulheres. Mulheres heterossexuais trazendo homens para as marchas estão comprometendo a segurança de todas, e muito embora isso seja uma programação da heterossexualidade obrigatória que domestica as mulheres desde criancinhas para dever lealdade e dependência aos macho, é hora de acordar e nos responsabilizarmos de nossa autonomia e da defesa da nossa resistência coletiva, já que minimamente nos encontramos em um movimento dito feminista e já há informação suficiente sobre as estatísticas de assassinato de mulheres pela classe dos homens a cada segundo, mutilação genital feminina, violência/estupro obstétrico, casamento de crianças, tráfico para fins de exploração sexual, violências e estupros reincidentes dentro dos movimentos sociais e da Esquerda e outras provas das atrocidades que eles são capazes contra mulheres. Queremos lembrar da importância de que recordemos que o feminismo é das mulheres e lésbicas e os espaços auto-organizados são um meio de resistência e autodefesa feminista, logo é inadmissível a presença de agressores neste, ademais da revitimização de sobreviventes de violência que consiste este ato, pois inúmeras mulheres e lésbicas tem na figura masculina um acionador de traumas e experiências de violência e vulnerabilidade. Nos espaços e atividades de mulheres e lésbicas homens não devem entrar. Nas manifestações  e marchas feministas, a rua tem que ser exclusivamente nossa!

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É muito frustrante perceber a fragilidade da nossa posição enquanto lésbicas radicais autônomas dentro da dinâmica feminista hegemônica. Precisamos ficar sempre alertas com os homens que as heterossexuais levam para os atos. De forma lesbofobica elas colocam em risco a nossa integridade e a de suas irmãs. O desprezo do feminismo heterossexual hegemônico à feministas autonomas, separatistas, sapatões, ficou evidente nos atos deste final de semana onde escutavamos muitas vezes a palavra ‘homens e mulheres’ sendo ditas no microfone e poucas vezes a palavra lésbica, muitas vezes a pauta de ‘homofobia’ (que não é assunto do feminismo mas sim do LGBT) sendo dita nos microfones – objetos que eram exclusividade das pelegas participadoras das reuniões onde quem discordasse era expulsa, logo as únicas a serem ouvidas –  e poucas ou nenhuma vez a palavra ‘lesbofobia’, onde participantes heteras assediavam ativista lésbica com perguntas lesbofóbicas e invasivas e dizendo que também lutavam por nós por ter um bottom escrito ‘contra a homofobia’, como se fossemos a versão feminina de machos gays, ou a clamação de que os homens deveriam fazer parte do feminismo, incluindo aí clientes de prostituição/proxenetas acadêmicos que chegaram a participar de uma ciranda de mulheres em Campinas enquanto uma lésbica era interrompida no que estava dizendo e retirado o microfone dela, a cumplicidade com sequestradores e violadores do feminismo como os gays queer que fazem lavagem cerebral em lésbicas liberais voltando estas contra lésbicas radicais e outras mulheres, machos supostos dissidentes do ‘gênero’ ganhando dinheiro com suas bolsas de estudos de gênero para colonizar a luta das mulheres e lésbicas e estuprar os seus espaços. No ato de Campinas no sábado anterior ao ato na Avenida Paulista em São Paulo, uma companheira conseguindo à muitas custas poder falar ao microfone, teve sua voz interrompida, a primeira e única voz lésbica lá. Também no mesmo ato, as lésbicas foram mandadas para o final da marcha, enquanto que homens podiam segurar bandeiras de seus partidos em meio à marcha pois estariam ‘protegendo’ as militantes de sua organização. A lógica heterossexual – a compulsoriedade da união das classes homem e mulher e o tabu contra seu rompimento pela autonomia das mulheres e lésbicas – se apresentava na compulsiva apresentação de militantes que apenas estavam ali por determinação de seus partidos ou na predominância de organizações que por mais que se digam de “Mulheres”, estão ali a mando de PT, CUT, PSOL, PSTU, governismos, sindicatos e qualquer outro Pai/Patriarca, e não pelas mulheres e lésbicas e seus interesses, mas para atender os interesses de seus grandes esposos.

 

Também deixamos como reflexão a importância de que as lésbicas sororizem com outras lésbicas e despertem sua consciência para a valorização de um movimento autônomo de lésbicas. Apesar de não termos convocado amplamente para a bloca, que era de afinidade, as lésbicas devem juntar-se às sapatão. São as mais expostas e mais prováveis vítimas de violência e as que mais necesitam de uma estratégia defensiva de bloco em marchas. Enquanto isso eramos minoria da minoria, e as sapatão se prestavam à situação de fazer número para outras organizações ou heterofeministas, servindo de guarda-costas a elas ao invés de unir-se à outras lésbicas e se interessar pelo projeto político lésbico feminista, o único no qual lésbicas são prioridade e não assuntinho secundário e menor, ‘divisionista’ e evitado com toda cautela.

 

Achamos legítima a denúncia e exposição da agressão e não corroborar com o silêncio, e não temos muitas expectativas de que será esse relato de denúncia e crítica que vai fazer os movimentos sociais levarem a lesbofobia a sério, se nem o movimento feminista o leva e ao final deste escrito muitas que o estejam lendo devem estar considerando, como sempre, que somos ‘um bando de loucas’. Por isso convocamos novamente as lésbicas a constituírem um movimento autônomo de lésbicas e autodefesa lésbica porque apenas acreditamos em poder contar com nós mesmas e não esperamos nada das instituições dos Machos como delegacias de polícia, Estado, e afins. Aquelas que se sensibilizarem com esse relato sabemos que estarão do nosso lado.

 

As companheiras vamos nos recuperando desta agressão lesbofóbica e de outras de modo a que não nos expulsem do movimento por traumas, acionadores, insegurança e desconforto. Nos manteremos firmes. Nenhum espaço é seguro para lésbicas a menos que construamos o nosso, em autonomia sapatão. Não importa quanto homens – gays e heteros – e mulheres heterocentradas queiram aniquilar as sapatão e sabotar a verdadeira libertação das mulheres do seu estatuto de escravização sexual, vamos continuar existindo, nos multiplicando e resistindo, contaminando outras de rebeldia e desobediência feminista. Insistiremos na palavra LÉSBICA em todos lugares em que quisermos ocupar e estar, até que todas mulheres sejam finalmente livres.

 

SAPATONAS RESISTEM!

 

Lésbicas Radicais Autonomas

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* em breve, uma crônica e análise mais aprofundada da nossa participação e reflexão sobre o Estado do movimento feminista.

ato 8 março em SP – lésbicas radicais presentes

 

Lésbicas radicais autônomas se fizeram presentes no ato de SP segurando faixa escrito LÉSBICAS RADICAIS CONTRA O CAPITAL E O ESTADO RACISTA PATRIARCAL, fizeram uma intervenção artística por meio de se fazer presente usando máscaras e chapéis de bruxa e entoando gritos como: “Vem! caminhão! Vem para a revolução!”, “Acorda mulher! Vire sapatão! O homem é machista e ele não vai mudar não!”, “Se toda mulher virasse sapatão, seria a revolução, seria a revolução!”, “Sapatonas contra as guerras! Sapatonas contra o Capital! Sapatonas contra o Racismo, contra o Terrorismo Neoliberal!”, “Lésbica feminista! sapatona convicta!”, “Não, não! Lesbofobia não!”, “Basta já de repressão! Pela santa inquisição! Botar fogo nas igreja libertar as sapatão!”, “Sapatão não é diferença sapatão é resistência!”.

Até onde soubemos, fomos o único grupo a sofrer violência (lesbofóbica e política) dentro do próprio ato, tendo sido atacadas por militantes do próprio ato, duas de nossas companheiras sofreram agressão e fomos perseguidas e filmadas, até a ação da comissão de segurança do ato atuar e expulsar o agressor do ato e reprimir a ação dos e das (sim) demais militantes. Também sofremos assédio lesbofóbico por parte de mulheres do próprio ato, de outras organizações. Mesmo assim se queriam nos atrapalhar, não conseguiram, seguimos firme com nossa faixa marchando e visibilizando as lésbicas.

8 de março também é das sapatão!

labrysludista
8 de março é uma data que remete às mulheres trabalhadoras que foram queimadas por patrões numa fábrica como repressão por protestarem e realizarem uma greve auto-organizada apenas por mulheres contra a extrema exploração e injustiça do sistema capitalista, mostrando que, desde os tempos da caça às bruxas e inquisição, mulheres resistentes a sistemas opressivos vem sendo queimadas e assassinadas. Muitas dessas resistentes foram também as lésbicas, que como Adrienne Rich coloca, “antes que existira ou pudesse existir qualquer classe de movimento feminista, existiam as lesbianas, mulheres que amavam a outras mulheres, que recusavam cumprir com o comportamento esperado delas, que recusavam definirem-se em relação aos homens, aquelas mulheres, nossas antepassadas, milenares, cujos nomes não conhecemos, foram torturadas e queimadas como bruxas”A História segue se repetindo, e o mecanismo político da fogueira e do estado de genocidio do povo político das mulheres – que é o Patriarcado – segue se dando e é preciso lutar contra ele.
Integrar uma resistência política não vem sem ataques por parte dos opressores. Definimos a Lesbofobia como um aparato de repressão a serviço da Heterossexualidade Compulsória, regime político que obriga a conformidade das mulheres nas classes sexuais de modo a manter sua exploração pela classe dos homens por meio da violência, invisibilização, aniquilamento.
Como o 8 de março é uma data histórica que fala da mulher trabalhadora, queremos falar aqui da lésbica trabalhadora, que nunca é pautada na data:
A Lesbofobia precariza economicamente a vida das lésbicas. Muitas vezes vivendo em diáspora, fugitivas da classe mulher, fugitivas e expulsas de instituições patriarcais como a família, possuem recursos de sobrevivência limitados. Diferentemente das companheiras e de suas parentes heterossexuais, muitas vezes tem que sair de casa cedo, ou de suas cidades de origem, onde existem poucas como ela, expulsas pela força da discriminação e da ameaça de violência que são constantes nas vidas lésbicas. Isso faz com que não terminem seus estudos e tenham que buscar empregos precarizados para pagar o aluguel ou custear sua vida longe de seus agressores. Em entrevistas de emprego, não é contratada pelo seu aspecto pouco feminizado: por ter cara de sapatão. No ambiente de trabalho, vive escondida ou sofre demissões por ser lésbica visível ou por descobrirem que o é. Na sua carência de recursos materiais e de afeto se torna dependente emocionalmente nas suas relações afetivas, pois funcionam também como apoio mútuo e sobrevivência. Estas relações não são reconhecidas nem apoiadas economicamente pela família, ou pelo Estado, ou pela Sociedade. O isolamento em um casamento lésbico pode torná-la dependende da companheira por compartilharem recursos materiais, e se caso a lésbica se encontra em situação de violência doméstica, esta situação é totalmente invisibilizada na sociedade, o que torna ainda mais difícil para uma lésbica vítima sair da situação. Ao buscar denunciar, a lei Maria da Penha falha enormemente com lésbicas, que são caçoadas por policiais nas delegacias ao fazer o boletim de ocorrência e a discriminação torna arriscado romper com o silêncio. Se possui crianças, o Conselho Tutelar tenta muitas vezes tomá-las por considerar a mãe lésbica uma indecente. Nos trabalhos, a Lésbica tem que provar ser ainda melhor que seus e suas companheiras heterossexuais, tendo que se esforçar duplamente para ganhar aceitação e não ter seu trabalho mau reconhecido em função de  sua sexualidade. O excesso de trabalho e o  sofrimento da invisibilidade afetam a saúde mental das lésbicas que padecem de ansiedade, depressões,e outros adoecimentos comuns gerados no ambiente laboral. O assédio sexual (estupro corretivo) no trabalho e a fetichização das lésbicas também são uma realidade do Terrorismo Sexual supremacista masculino. Se a lésbica é também negra, sofre ainda mais em termos de objetificação, exclusão, discriminação e precarização.
Acreditamos que o Capitalismo Heteropatriarcal e a Supremacia Masculina devem ser abolidas. Acreditamos na Lesbianidade não como orientação sexual, mas como um ato político de resistência e um projeto político de um mundo onde todas as mulheres possam ser livres. Sendo o modelo econômico existente uma imposição dos patriarcas brancos, queremos a destruição dele, parar o modelo econômico predatório que estupra[1] a Terra com o agronegócio e envenena os alimentos e recursos hídricos, mata animais e populações nativas, para favorecer a apoia mútua e resgatar o respeito ao meio ambiente.
8 de março não é dia para festejar a ‘mulheridade‘. Lésbicas são o conceito da fêmea[2] selvagem antes de sua apropriação pela classe dos homens, que a encerra na categoria Mulher. Somos fugitivas dessa classe e desse conceito. Não queremos flores, queremos molotovs contra o Heteropatriarcado e todas suas instituições opressivas, em solidariedade também com as demais espécies do planeta.
Contra o Heterosistema Racista, Classista, Especista, pela abolição das classes sexuais e econômicas, 
Pela Autogestão das Mulheres
Rebeldia Lésbica!
Sapatões Proletárias, Periféricas, Negras, Radicais e Autônomas, na Luta!
[1] Consideramos certo dizer que a terra é estuprada pelos grandes latifúndios e por todo processo de envenenamento, monocultura e reprodução forçada da qual é obrigada e a desertifica, a mata, para enriquecer patriarcas carnívoros que se apropriaram das terras, e porque a Terra e sua vida é identificada frequentemente, desde as mitologias ancestrais, com as Mulheres, sendo o ataque às Mulheres e ao Meio Ambiente expressões simultâneas e de um mesmo ódio patriarcal contra valores biofílicos. Estamos usando estupro como metáfora muito concreta do que vemos que ocorre com os ecosisstemas, violentados pelos machos. Acreditamos que a violência desse processo de destruição ambiental e seus impactos constitui um dos ritos e pilares fundamentais da Masculinidade. Sabemos de todas problematizações sobre o uso da palavra estupro, mas a usamos em demonstração de sororidade com a Planeta e não exclusão desta de nosso feminismo, representando nossa posição ecolesbofeminista de defesa da Matriarca/Deusa Terra. Não queremos medir palavras. Precisamos gerar consciência e sensibilidade e falar a verdade.
[2] Sabemos que as mulheres negras problematizam o conceito de fêmea. Aqui tentamos utilizar o termo fêmea não na sua conotação patriarcal pejorativa e especista de mulher não-humana, mas justamente o estado da pessoa que se considera hoje mulher, antes do acontecimento histórico que cria as classes sexuais homem e mulher. Isso não quer dizer que não vemos o conceito de mulher como politicamente útil e imprescindível para reconhecer o estado de opressão e a única e exclusiva sujeita do feminismo, apta para abolir e superar o Gênero por meio da destruição das classes sexuais, e pela necessidade de nos remeter a esta materialidade política.
[3] Com respeito ao termo proletária, posteriormente foi problematizado como heterocentrado, porque proletária se refere à prole, coisa que somos contra (reprodução). Também não excluímos desta definição as lésbicas autogestivas porque consideramos ‘trabalho’ no sentido de produção dos meios de vida. Estamos aqui como anti-trabalho, se trabalho se considera no sentido do capitalismo atual, queremos destruí-los.[4] As questões levantadas aqui sobre as lésbicas e suas questões com o trabalho e sobrevivência foram a síntese de questões surgidas em nossos grupos de autoconsciência, o interesse em aproveitar o tema da data também se encontrou com questões que apareciam na nossa grupa e uma tentativa de sair dos pequenos espaços de encontro para levar para o mundo público e para a ação política.

Por que você quis ser lésbica?

“Ai a pessoa tem a pachorra de me perguntar isso. Por que eu quis ser lésbica? O verbo no passado nem faz sentido. Eu escolho todos os dias ser lésbica, eu quero ser lésbica, eu quis, eu quererei no futuro. Eu quero ser lésbica porque eu me amo, eu quero ser lésbica porque eu sou livre e quero ser livre, eu quero ser lésbica porque eu estou viva VIVA e não morta e petrificada, eu quero ser lésbica porque eu amo outras lésbica que assim como eu estão VIVAS, eu quero ser lésbica porque eu quero ser visível pra mulheres e quero que elas saibam que também podem ser lésbicas.”

–  Mona

A feminilidade e a nudez não consentida de nossas corpas radicais

A feminilidade é um sistema de tortura autoempregada extremamente violento e estrutural, parte do espectro da naturalização do conceito “mulher”. Seria no mínimo irônico se não fosse trágico o fato de esse enquadramento ser, no fim, a coisa mais antinatural em todos os sentidos, porque artificializa todos os aspectos da existência das mulheres: criando uma estrutura psíquica debilitada, plastificando suas corpas por completo sob um olhar racista, pedófilo, pornográfico e fetichista, aniquilando a significação positiva da solidão, impondo um sentido hegemônico para uma diversidade de corpas e vivências, sabotando o prazer e a autonomia das mulheres, romantizando a submissão e erotizando a dor e a brutalidade.

E para a lésbica é este um dos fenômenos que a leva a apreender outro tipo de autoflagelo: o ódio internalizado por si mesma, por sua corpa que não se enquadra nas caixas apertadas do processo de feminilização. Não necessariamente pela lésbica nutrir o desejo de aceitação através do enquadramento, mas pelo fato de enxergar com clareza que está à margem da sociedade.

Florescendo as características selvagens que levamos em nossas corpas, rejeitamos o padrão que impõe que devemos manter corpos e comportamentos infantis, e permitimos que nossos pelos cresçam. Em repúdio à indústria estética – que além de transformar as mulheres em bonecas e produtos para associá-las ao consumo masculino, explora animais e desperdiça recursos naturais como parte de seu processo lucrativo – negamos a máscara compulsória da maquiagem e dos produtos de desespero por características que não são nossas; dentre todos os aspectos de nossa existência lésbica, que já nos leva a rejeitar por completo a cultura que romantiza e absolve o macho de seu comportamento hierárquico inerente, bem como qualquer possibilidade de acesso à afetividade íntima e às nossas corpas, somos identificadas e posicionadas pelo olhar heteronormativo como as que estão e devem continuar marginalizadas. Somos uma ameaça. E esse deslocamento ocorre não só nos meios bem dentro da burocracia do sistema (lesbofobia institucional) como generalizadamente.

Por isso, presenciar a situação do padrão branco heterocentrado de feminilização é desgastante, porque ao enquadramento da HT segue-se a exclusão da lésbica, afinal está a própria normatizada sustentando a relação de poder, por reproduzir sistematicamente o discurso e o olhar que intenta provocar-nos uma sensação de nudez não consentida, de inadequação por estarmos existindo e nos locomovendo com corpas autoconscientes. Trata-se de mais uma das situações em que a corpa lésbica paira sem terra. Tal isolamento é uma forma de violência, e é essencial para a saúde das lésbicas a disposição para a desconstrução de tudo o que é bebido em fonte patriarcal e a manutenção de espaços de convivência.

!Vida longa ao sapatonismo radical!

 

– raposa