
porque não nos adaptamos à militância bem-comportada.
porque não nos adaptamos à militância bem-comportada.
Lésbicas radicais autônomas se fizeram presentes no ato de SP segurando faixa escrito LÉSBICAS RADICAIS CONTRA O CAPITAL E O ESTADO RACISTA PATRIARCAL, fizeram uma intervenção artística por meio de se fazer presente usando máscaras e chapéis de bruxa e entoando gritos como: “Vem! caminhão! Vem para a revolução!”, “Acorda mulher! Vire sapatão! O homem é machista e ele não vai mudar não!”, “Se toda mulher virasse sapatão, seria a revolução, seria a revolução!”, “Sapatonas contra as guerras! Sapatonas contra o Capital! Sapatonas contra o Racismo, contra o Terrorismo Neoliberal!”, “Lésbica feminista! sapatona convicta!”, “Não, não! Lesbofobia não!”, “Basta já de repressão! Pela santa inquisição! Botar fogo nas igreja libertar as sapatão!”, “Sapatão não é diferença sapatão é resistência!”.
Até onde soubemos, fomos o único grupo a sofrer violência (lesbofóbica e política) dentro do próprio ato, tendo sido atacadas por militantes do próprio ato, duas de nossas companheiras sofreram agressão e fomos perseguidas e filmadas, até a ação da comissão de segurança do ato atuar e expulsar o agressor do ato e reprimir a ação dos e das (sim) demais militantes. Também sofremos assédio lesbofóbico por parte de mulheres do próprio ato, de outras organizações. Mesmo assim se queriam nos atrapalhar, não conseguiram, seguimos firme com nossa faixa marchando e visibilizando as lésbicas.
“Ai a pessoa tem a pachorra de me perguntar isso. Por que eu quis ser lésbica? O verbo no passado nem faz sentido. Eu escolho todos os dias ser lésbica, eu quero ser lésbica, eu quis, eu quererei no futuro. Eu quero ser lésbica porque eu me amo, eu quero ser lésbica porque eu sou livre e quero ser livre, eu quero ser lésbica porque eu estou viva VIVA e não morta e petrificada, eu quero ser lésbica porque eu amo outras lésbica que assim como eu estão VIVAS, eu quero ser lésbica porque eu quero ser visível pra mulheres e quero que elas saibam que também podem ser lésbicas.”
– Mona
cliquem para ver mais. parceria J’s Ink Tattoo and Art e heresia lésbica.
“A visibilidade não é reformista quando não é busca de aceitação, mas sim mostrar que o sistema certo, correto e normal é inválido e não funciona. Se a visibilidade lésbica nós não existimos. Nossos sentimentos, nossos amores e nossas existências são apagadas e negadas. E como mesmo na invisibilidade nós somos de carne e osso, sofremos pra caramba. Então o lance do armário acaba funcionando de forma estratégica pra alguns, mas como forma de sufocamento pra outros. Sem lésbicas visíveis muitas de nós nem saberia o que é uma lésbica e poderia viver infeliz pro resto da vida sozinha ou ao lado de um macho, com muitas gerações fizeram pra se sentirem seguras. Hoje mais que em qualquer momento da minha vida eu levanto a bandeira da visibilidade lésbica e da quebra do significado simbólico do armário. Quero que todos vejam que sou lésbica, e que não sou o mito que eles inventaram.”
Aline Dias
texto de monique wittig, traduzido por uma companheira.
monique wittig e outras lésbicas radicais foram expulsas da revista materialista feminista francesa, questiones feministes (questões feministas). o artigo é uma crítica ao que ela entende como uma tendência heterocentrada no movimento de mulheres francês e uma brincadeira com o nome da revista.
como o scan tinha problemas, a tradução tá com lacunas. Parece-se um pouco como a ler Safo. Em breve tentaremos disponibilizar o texto na íntegra.
Lesbofobia por parte de mulheres/feministas não passa de uma forma específica de misoginia do colonizado. Afinal a lesbofobia/ódio às lésbicas é uma forma de misoginia especial, serve à heterossexualidade compulsória e a mantêm, mantêm as mulheres na linha, ligadas à classe masculina. Tudo que indica separação dos machos é atribuído às lésbicas e tudo que é relacionado a possibilidade do separatismo e ao lesbianismo é visto como demasiado radical e extremo, demasiado ameaçador pro estatus quo, pra zona de conforto. O pensamento radical lésbico é então, demonizado e as lésbicas feministas queimadas na fogueira da misoginia, porque é ‘revolução demais’, é ir longe demais… isso não é permitido pro povo colonizado que são as mulheres. O pensamento lésbico representa então uma ameaça às bases do patriarcado, a heterossexualidade, logo a lesbofobia é uma forma de misoginia e de dominação sobre as mulheres para não permitir sair do cerco da heterossexualidade compulsória e as doutrinas perpetuadoras da sua ordem.
***
a palavra lésbica pro queer e pro anarquismo/lésbicas anarquistas ou queer é nojenta. todo o tempo tentando apagar essa palavra, com queer, com masculinidades femininas, com o que for no lugar, podem se chamar de tudo menos de lésbicas. Essa palavra é mal vinda em todo lugar, até mesmo dentro do ‘feminismo’. ideologias profundamente lesbofóbicas e anti-lésbicas. sempre se colocando também contra relações profundas entre duas mulheres e patologizando como se fossem ‘monogamia’, ‘dependência’ e ‘feminilidade’, ‘possessividade’. Definitivamente as pessoas precisam entender que a realidade lésbica necessita uma epistemologia, análises, próprias, não podem importar da análise das relações heterossexuais. O contexto das relações e até mesmo das violências que se dão entre lésbicas está permeada pelo contexto lesbofóbico, tudo temos que ler tendo em mente a lesbofobia, até os supostos ‘ciúmes’ (insegurança num mundo de relações instáveis, de abandono familiar, de ataques a suas relações, de ser deixadas por lesbofobia internalizada, etc), isso não é pra desresponsabilizar, mas pra poder acolher esses casos todos sem reproduzir mais violencia lesbofobica contra essas sujeitas. E definitivamente: escrachos e difamações de lésbicas por terem tido relações difíceis e conturbadas (etiquetadas por autoridades morais cristãs do ‘feminismo’ – que as vezes está mais pra um movimento pela feminilidade – como relações ‘violentas’) é pura expressão de lesbofobia e ódio à lésbicas. Sempre a lesbofobia escondida das pessoas encontra um meio de se manifestar e aí nessas situações vem a tona, as grandes vontades de jogarem pedras nas sapatões. Como se fosse fácil pra estas construir modelos saudáveis num contexto de tanto ódio e ódio internalizado.
Meu compromisso é com as lésbicas.
***
também: é lesbofobia idealizar as relações e realidade lésbica, e colocá-las de forma objetificada e fetichista como ocorre no lesbianismo político. é uma lesbianidade definida e colocada para o ‘het gaze’ para o olhar heterossexual, e não definida pelas mesmas, é uma lesbianidade fora de si mesma, definida por outras. é lesbofóbico idealizar e colocar tantas expectativas na lesbianidade e depois se voltar contra lésbicas porque não foram o paraíso idílico que estava posto pelo lesbianismo político ou por sua imaginação, como abrigos da supremacia masculina. sim que são abrigos no mais das vezes, mas essa existência e esses vínculos entre lésbicas e mulheres são fortemente atacados pelo patriarcado por representar uma ameaça direta a este, então logo é esperar demais de uma comunidade que sobrevive contra mil dificuldades, seria estranho se todas lésbicas estivessem bem, se não reproduzissem violências traumáticas deixadas pelo agressor, se não tivessem suas mentes conturbadas pelo contexto de violência em que vivem.
as lésbicas tem que ser obrigadas eternamente a performar e provar pro mundo suas relações, as relações lésbicas tem que ser perfeitas, tem que simbolizar tudo de ‘lindo e fofo’, ‘cor de rosa’ que se supoe que deveria ser as relações entre ‘mulheres’. Já que mulher né, é o sonho de feminilidade, bondade e doçura, assim deviam ser as lésbicas e suas relações. Aì quando as feministas encontram sapas feias, gordas, peludas e agressivas, bravas, elas detestam! E acusam a gente de ferir o feminsimo ou a imagem da lesbianidade!
Eu não tenho que provar nada para a heterorrealidade! Nos deixem com nossos problemas! Sâo séculos de massacre estamos tentando encontrar soluções e nos curar! E aceite: sem sua ajuda! Sem mais colonizador*s!
a ânsia do poema
mais um dia
mais uma noite: sozinha
ando pelas ruas caçando um espelho
qualquer reconhecimento que seja
ela surge, ela cruza
dou um oi silencioso
por ela nunca ouvido
não temos terra
não temos posses
mal temos nossas pernas
a mulher não existe
existe? será?
e a lésbica
onde ela está?
as palavras são cuspidas no papel
e de que forma poderia ser?
não há tempo para a beleza
para voltas e rodeios
mal há tempo pra viver
não sei se sombras ou bestas
se fantasmas, não sei
seriamos mitologia?
há cobras no lugar de cabelos?
e é assim que resistimos
no nada do lugar vazio
monalisa lemure
Maior parte das Lésbicas ex-heteros que eu conheci de outros lugares pareciam achar essa idéia impensável, mesmo que as Lésbicas nunca-heteros estejam em todos os lados. Mas numa comunidade onde muitas Lésbicas falam sobre o privilégio hetero de mulheres, era lógico que algumas de nós aplicaria essa idéia à Lésbicas de forma a explicar nossas diferenças. Talvez Lésbicas reacionárias estrangeiras achem difícil imaginar que Lésbicas de um país que elas rebaixavam como ‘retrasados e ignorantes’ poderiam ter políticas mais Lésbicas-identificadas e radical que as suas. Depois de tudo isso, se Aotearoa significaria dizer estar tão ‘atrás’ comparado à países ‘sofisticados, altamente civilizados’ como Inglaterra e os E.U.A., você esperaria que nós tivessemos políticas podres também. Mas o oposto está mais próximo da verdade – pessoas de nações menos poderosas muitas vezes possuíam políticas mais radicais. A rabugentice sapatão e a auto-confiança são encorajadas por viver em lugares em que as coisas não são dadas todas na mão, onde temos que fazer as coisas por nós mesmas enquanto vamos adiante porque não temos auto-intitulados líderes chefiando-nos – ou qualquer uma de nós faz o trabalho porque há tão poucas de nós.
Em uma comunidade Lésbica pequena, Sapas devem confiar umas nas outras mais ainda. Lésbicas privilegiadas costumam ter menos tendência a formar panelinhas (embora isso sim aconteça). Sapas de diferentes contextos e que saíram do armário de diferentes formas tendem a misturar-se juntas mais. Isso significa que eu tive sorte de estar rodeada de muitas sempre-Lésbicas, Sapas Velhas, Butchs e nunca-heteros. Eu não digo que essas Lésbicas não fossem oprimidas – elas eram, mas Lésbicas ex-heteros que saíram do armário no Movimento de Libertação de Mulheres, como eu e minhas amigas, socializadas com, sido amigas de e amantes de, e trabalharam juntas dessas Sapas. A mais amante das Lésbicas de nós aprendeu sobre suas experiências Lésbicas e lutou sua opressão. Em comunidades maiores – em grandes cidades de países largamente privilegiados – esta mistura é mais difícil de ocorrer. É uma verdadeira vergonha, porque as Lésbicas ex-heteros do Movimento de Libertação das Mulheres tendem a ficar juntas, reforçando à lesbofobia umas das outras. As coisas não são perfeitas em Whanganui-a-Tara, mas eu estive chocada com as histórias que eu escutei de Lésbicas retornando a suas casas depois de estarem em Londres e outros lugares, sobre a intensa suspeita de Lésbicas feministas das Sapas não-femininas. As linhas não foram desenhadas tão rigidamente na minha comunidade de origem.
Ruston in Dykes-Loving-Dykes: Dyke Separatist Politics for Lesbians Only, Battleaxe. 1990.
eu sei ki tá foda mas
nos somos sobreviventes de violência até o fim
são marcas ke tão no nosso corpo
se não ficar como trauma vai ficar no subconsciente
mas agente é bicho faz parte da natureza
então minha amiga agente pode se regenerar
pô meu mó vida sofrida
que agente carrega ancestralmente
mesmo como pessoa branca a caça as bruxas é uma grande prova
histórica da misoginia patriarcal europeia
as preta então é pesado demais tem história de sequestro
colonização escravidão estupro misigenação na América
a nos carregamos isso
mas quero carregar como argumento antipatriarcal e transformar a dor
que eles infligiram sobre nossos corpos em luta
porque não queremos mais ser servas, nem esposas nem escravas
queremos viver como lésbikas punkAs sem pátria nem patrão
minha mátria é onde tiver mulheres
então me ligo a não pelo território ou pela língua
mas pela sororidade
é muito importante agente adquirir autonomia
pra nossas namoradas
essa tristeza ki eu tô sentindo vem dai do sistema
a vida do planeta ki está aqui e bilhões de anos
é mutável
meu e da sororodade
eu vi vc tão feliz no rolê das sapatão
seus olhos brilhavam em vários momentos
eu curti muito também