“Disseram que eu sofro homofobia”

“Nos anos 80, o hábito feminista de desenvolver uma auto-crítica pesada e análise política, aliadas à crença na possibilidade de mudança pessoal segundo os próprios interesses e os da liberação lésbica, foi substituído em alguns círculos lésbicos por uma crença na identidade ou destino invioláveis e inevitáveis, baseados em sentimentos acríticos sobre “quem você realmente é”. A ideia de uma construção social e, certamente, a ideia de que era bom sujeitar seus “sentimentos” a análise em contexto feminista, tornaram-se ofensivas para a auto-percepção de outras lésbicas. O feminismo interrompia a busca pela verdade.”

Sheila Jeffreys, The Lesbian Heresy


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[desenho por Nina Scarnia]

Por que um movimento autônomo de lésbicas

“As culturas criadas por homens excluem mulheres rotineiramente, e a identidade dos homens depende da opressão das mulheres. A cultura dos homens gays não é de fato diferente. Marilyn Frye sugere que as culturas de homens gays e homens héteros compartilham os mesmos princípios básicos de falocracia, como a presunção de cidadania masculina; idolatria do pênis; homoerotismo masculino, ou amor fraterno entre homens; desprezo por mulheres, ou ódio a mulheres; compulsoriedade do modelo masculino heterossexual; e a presunção de acesso do falo a tudo. Ela vê o potencial revolucionário das lésbicas como a rejeição desses princípios.

O amor entre homens é algo que torna obvio a maneira como homens gays e mulheres lésbicas diferem. Homens gays desejam e amam os membros da classe dominante, a classe dos homens. Nesse sentido, homens gays são leais ao princípio básico da supremacia masculina, amor/lealdade entre homens.

O direito quase universal a foder – de afirmar sua dominância individual e máscula sobre tudo o que não é ele mesmo, por meio do uso desse direito para gratificação fálica, ou auto-afirmação, em nível físico ou simbólico. Ele pode urinar ou ejacular em qualquer objeto físico, dentro ou fora, e tudo pode ser penetrado por seu pênis, seja um animal não-humano ou uma mulher.

A única limitação séria para isso, além daquelas impostas pela propriedade, é que homens não deveriam foder outros homens, especialmente homens adultos de sua própria classe social e raça. Apesar de homens gays violarem essa regra, eles são tão leais ao principio do acesso fálico generalizado quanto os homens héteros, e vão além. Frye explica que a proibição de homens foderem outros homens é uma maneira de manter o principio da masculinidade no mundo. Ela postula que, se homens tivessem a permissão rotineira de ser entre si exatamente da forma que são com as mulheres, a lealdade masculina seria afetada e a supremacia masculina seria destruída.

 

A direção geral das politicas dos homens gays é a da conquista do direito à masculinidade e ao privilegio masculino para homens gays, e promover o aumento do campo de alcance do acesso fálico até o ponto em que seja, de fato, absolutamente ilimitado. A direção geral das políticas do feminismo lésbico é destruir o privilegio masculino, desmantelar a masculinidade, reverter a busca pelo acesso fálico, colocando em lugar da regra de que “é permitido a menos que seja explicitamente proibido” a regra de que “é proibido a menos que seja explicitamente permitido”.

 

(Sheila Jeffreys, The Lesbian Heresy)

“O que significa a palavra lésbica pra mim”

“Eu sempre me identifiquei muito com a palavra lésbica, e gosto dela principalmente porque nomeia mesmo, porque é visível, nunca quis me ver como gay nem homossexual, a palavra é separatista em si. E pra mim ela expressa uma ética também feminista integral de vida e é se visibilizar para outras lésbicas. O poder deste nome pra mim tem haver com que quando você assume esse nome, assim se nomeia, é um ato de extrema coragem num contexto de lesbofobia e anti-mulher, e quando você o faz, assim como sapatão, você está visibilizando também outras lésbicas. Outras minas que se sentirão encorajadas a assumir esse nome e visão. E assim você transmite uma noção de pertencimento e uma memoria de resistência também. É pra mim impressionante o poder que tem esse nome, e por isso mesmo acho que não deve nem ser apagado, nem banalizado, deve ser defendido por nós e cuidado. E por isso que afirmamos que quem pode assim nomear-se são unicamente aquelas com vivência lésbica, e as únicas que podem também definir este nome assim como as políticas lésbicas. Ser lésbica e assim se nomear e visibilizar é também sobre honrar as lésbicas enquanto coletivo. As que nem tem voz.  Esse nome tem poder e é temido, odiado, e é ainda mais importante num contexto em que muitas andam jogando fora este nome junto ao de mulher, usando ‘queer’ pra se definir… Por isso é importante gritá-lo. Ele incomoda muita gente.”

a categoria de lesbianismo

Historiadoras lésbicas e feministas como Lilian Faderman e Caroll Smith-Rosenberg também argumentaram que uma identidade lésbica específica, baseada nas categorizações da sexologia, foi criada no final do século XIX. Elas mostraram que, antes disso, britânicas e americanas de classe média, fossem casadas ou solteiras, engajariam-se rotineiramente em amizades passionais, românticas e frequentemente duradouras entre si; o que incluía constantes expressões de um amor pleno e dormir nos braços uma da outra, no mesmo travesseiro mesmo por uma vida inteira sem que isso fosse visto como algo suspeito. Havia algumas mulheres que, entretanto, ao longo do século XIX, que se enquadrariam no que viria a ser mais tarde o modelo sexológico, algumas que até se vestiam como homens e amavam mulheres, apesar da ausência do modelo sexológico. Uma mulher, por exemplo, do coméco do sec. XIX em Yorkshire, Ann Lister, se engajou em relações sexuais entusiásticas com vizinhas, até o ponto de contrair doenças venéreas, como conta em sus diários, e realmente concebia-se como “diferente”. Mas a existência desse tipo de mulher não parece ter influenciado a inocência com a qual amigas levavam suas relações, ou a aceitabilidade social do amor entre duas mulheres. Foi o surgimento da sexologia que tornou pública e estigmatizou a categoria de “diferença sexual”.
(…) A definição de Faderman de lesbianismo não dependia de contato genital. Ela diz “o amor entre mulheres foi primariamente um fenômeno sexual unicamente na literatura masculina”.

Os críticos de Faderman a acusaram de traição, de “dessexualisar” o lesbianismo ao incluir, em sua definição, mulheres que não tiveram contato genital no passado ou tivessem contato genital pouco frequente no presente. Para aquelas que veem o lesbianismo como diferença sexual,, amigas românicas claramente não qualificam. Mas para feministas pras quais escolher e amar mulheres é a base da identidade lésbica, elas qualificam sim. A conexão genital é difícil de provar. As lésbicas, ao longo da história, vão se provar bastante poucas, e a história das lésbicas começará apenas a partir do século XIX, se o modelo sexológico for adotado. A história da heterossexualdiade nunca foi limitada à comprovação do contato genital. A heterossexualidade é uma instituição política que não começou com a sexologia em 1890. Não é apenas uma das várias diversidades sexuais. A proposta da história das lésbicas é analisar a história da resistência feminina à heterossexualidade como instituição, em vez de apenas buscar mulheres que se enquadrem numa definição surgida no século XX e baseada na sexologia.

– retirado de Sheila Jeffreys, The Lesbian Heresy

HETEROREALIDADE

Heterorrealidade é a percepção de um mundo no qual a mulher existe sempre em relação ao homem (…), descreve uma situação criada pelas heterorrelações (…) que expressam a ampla gama de comunicações afetivas,sociais, políticas, econômicas, entre homens e mulheres (…) decretadas pelos homens. (Raymond, 1986).

Janice Raymond propõe que a cosmovisão dominante podia ser descrita como “heterorrealidade”. essa perspectiva apoia a ideia de que a mulher “existe sempre em relação a um homem” e,consequentemente, que as mulheres juntas são, de fato, mulheres sozinhas.

Esra heterorrealidade é criada pelo sistema dominante de heterorrelações, que se expressa em uma ampla gama de relações sociais, políticas e econômicas estabelecidas entre homens e mulheres. Por homens.

Paradoxalmente, as mulheres são usadas como instrumento para sustentar as heterorrelações, quando na verdade a realidade é homorrelacional, isto é, são as relações masculino-masculino que de fato determinam o curso da realidade nas esferas sociais, políticas e econômicas. O resultado é que a energia das mulheres se gasta em apoio às heterorrelações.

Na lógica das heterorrelações, as únicas relações para as mulheres são as relações homem-mulher. A heterorrealidade supõe que as mulheres não se relacionam ou não deveriam relacionar-se entre si. Raymond propõe que esta é a base da necessidade de uma filosofia do afeto feminino (o projeto de seu livro, A passion for friends ). As mulheres que têm sido monopolizadas pela manutenção de relações com homens agora devem refletir sobre o que significa para as mulheres moverem-se para além da separação heterorrelacional das mulheres, através de relações ginoafetivas. As relações ginoafetivas são relações de atração, influência, e movimento mulher-mulher. A amizade entre mulheres tem sua origem com as mulheres originais, que traçam seus próprios “começos desde o mais fundo de seu Ser e outras mulheres”. A amizade feminina é um contexto em que as mulheres podem recuperar sua integridadede seus Eus desintegrados e restaurar a ordem primordial da mulher nas relações das mulheres.

O ginoafeto é um contexto no qual as mulheres podem recordar as mulheres originais.

— Janice Raymond. A passion for friends:towards a Philosophy of female affection. Boston: Beacon Press, 1986.

ginoafeto

“A criação do amor entre mulheres foi uma tarefa necessária para a própria sobrevivência do feminismo. Se as mulheres não amarem a si mesmas e a outras mulheres, então elas não terão base na qual se identificar e rejeitar atrocidades contra mulheres. Para um movimento feminista a solidariedade do oprimido foi uma base necessária para a organização. Mas o amor entre mulheres foi sempre visto como constituinte de nada mais que uma versão de mulheres da camaradagem.
Raymond inventou o termo ‘Gyn/afeição’ para descrever o amor entre mulheres que é a fundação do feminismo. Gyn/afeição ‘conota a paixão que mulheres têm por mulheres, ou seja, a experiência de profunda atração pelo profundo e vital Ser e o movimento para outra mulher vital’ (p. 7). A política feminista precisava ser ‘baseada na amizade… Assim, o significado básico de Gyn/afeição é que o afeto de mulheres move, agita e desperta a outra para o poder completo’ (p. 9). Para muitas feministas a conclusão óbvia do amor entre mulheres era o lesbianismo (Radicalésbicas 1999). Raymond explica que embora seu conceito de Gyn/afeição seja não se limite ao lesbianismo, ela não entende porque alguma mulher que ama mulheres pararia o lesbianismo.”

— Sheila Jeffreys, Unpacking Queer Politics

SENALE, desaparição dos espaços de resistência lésbicos, relativização de identidades e separatismo

por Andressa Stefano

*SENALE: Seminário Nacional de Lésbicas, que ocorreu em abril de 2014 em Porto Alegre. Neste seminário foi enterrado o histórico espaço de lésbicas, responsável dentre outras coisas pela articulação das caminhadas lésbicas pelo país e pelo dia da Visibilidade Lésbica. No seminário foi votada a mudança do nome para Senalesbi.

Se o movimento feminista não é crítico do Poder, não é movimento: são funcionárias do Estado.

Lidia Falcón

A pós-modernidade que se infiltra no movimento feminista está despolitizando e descentralizando as pautas do movimento das mulheres. E uma das táticas disso, é a ressignificação do conceito de feminismo, ou uma ampliação do que seriam vários conceitos de “feminismos”. Temos que retomar o conceito de feminismo, e, a partir desse conceito, é inevitável que surjam diversas táticas de combate ao patriarcado. Essa abertura, relativiza e desestabiliza as forças que sempre pulsaram na base do movimento (ou seja, as próprias sujeitas, as lésbicas) e que lutam por pautas específicas e materiais, por termos realidades materiais e opressões materiais. A segunda onda feminista foi de onde mais saíram escritoras e teóricas, e, infelizmente, estão sendo apagadas à força pela academia engolida pela teoria queer, e, mais recentemente, o ativismo trans.Uma das consequências dessa relativização do conceito de feminismo, é também a relativização da identidade lésbica. Se para os liberais não existem estruturas, tudo é auto-identificação e relativismo, então qualquer um(a) pode ser lésbica, qualquer um pode ser mulher. Basta se “identificar” com essas categorias. O que eu vi no SENALE foi a materialidade do que antes só estava na academia e em ambientes restritos. Me assusta ver feministas marxistas e materialistas fechando com o conceito de “identidade de gênero” e mais surreal que isso só mesmo “falo lésbico”. Me pergunto se isso é uma tática partidária, ou se é falta de formação política da juventude feminista. Qualquer uma das duas, é extremamente preocupante e me faz temer o rumo que o feminismo está tomando enquanto movimento político, e quais pautas concretas, a curto, médio e longo prazo, nós queremos trazer para a realidade das mulheres lésbicas. Essa “união” e uma teórica “visibilidade das bissexuais” está desarticulando o único movimento que ainda tínhamos para falar sobre nós, sobre as nossas vivências, e nos organizamos politicamente enquanto sujeitas autônomas, de um feminismo revolucionário, e não mais um espaço colonizado, em que as lésbicas são secundarizadas e marginalizadas.Lésbicas existem muito antes do feminismo existir enquanto corrente teórica e movimento social. Lésbicas foram queimadas em praça pública, foram bruxas, foram mortas, foram estupradas. Lésbicas resistiram à heterossexualidade como regime político, foram marginalizadas, excluídas dos espaços públicos e políticos. Lésbicas feministas resistiram à apropriação e invisibilidade do movimento LGBT que sempre foram espaços majoritariamente masculinos que não nunca se propuseram à lutar para um desmantelamento da supremacia masculina, mas sim, uma reforma política para uma “convivência pacífica” entre as ditas “minorias sexuais” e uma manutenção das estruturas patriarcais que mantém as mulheres sob controle masculino. Os espaços gays neo-liberais sempre foram tóxicos para as lésbicas, sempre foram colonizadores e despreocupados com a nossa vulnerabilidade peculiar na sociedade feita por homens e para homens.Lésbicas radicais propuseram e propõe espaços de resistência apenas de lésbicas com o intuito de fortalecer a autonomia e a militância combativa e organizada. Separatismo é resistência. É tática neo-liberal nos fazer acreditar que temos que nos unir “a tudo e todos”. Gays não vão lutar pelas lésbicas. Gays estão preocupados em manter o status quo e manter o acesso aos nossos corpos mesmo que, supostamente, não tenham desejo pelos mesmos. Trans vão lutar pela identidade de gênero, pela aceitação dos seus nomes sociais perante o Estado, mas não vão lutar efetivamente pela desnaturalização da violência que acomete as fêmeas. Vejam que, dentro do ativismo trans, os homens trans não são destaque, e isso é só uma consequência de um movimento que privilegia o sexo masculino, assim como quase todo movimento social. Se não lutarmos pelas pautas que nos acometem, das quais somos protagonistas, querendo fazer maternagem com outros grupos vulneráveis, estes mesmos grupos não o farão pela gente. O movimento feminista é o único movimento em que existe uma coerção para acolher “à todxs”, como uma grande mãe que luta por todos aqueles que sofrem. O FEMinismo é para nós. Saio deste SENALE decepcionada, sentido falta de FEMINISMO LÉSBICO. O que é uma incoerência absurda em um seminário que tem um slogan de “lesbiandade e feminismos”. Proponho uma união entre as sapatas, em pensarmos em como construirmos de forma autônoma e efetiva um novo espaço de articulação. Mais uma vez, nós estamos saindo dos espaços, enquanto todo o resto se pendura no braço movimento lésbico.

Feminismo e Lesbianismo Radical, FLR (Front Lesbien Radical), 1981

Feminismo e Lesbianismo Radical, da autoria de  Claudie, Graziella, Irene, Martine, Françoise, foi escrito em 1981, um manifesto com uma série de teses lésbicas contra o movimento feminista francês, onde lésbicas declaram independência do mesmo.

baixar feminismo e lesbianismo radical

ler abaixo:

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Feminismo e Lesbianismo Radical
Claudie, Graziella, Irene, Martine, Françoise
1981

Este artigo surge do trabalho e discussões de cinco lésbicas no Fronte 1. Este não é um manifesto definitivo. É simplesmente a formulação de questões, linhas de reflexão, e os começos de uma análise. Isso irá, com certeza, ser desenvolvido durante e depois da conferência. 2

Nós mantivemos o mesmo método de presentação como usamos em nosso trabalho, que é um panorama escrito mostrando a genesis das nossas discussões, e uma crítica ponto a ponto desse panorama.

A. Nossa Crítica ao Feminismo

1. Práticas repressivas e de guilty-tripping (indutoras de culpa) com lésbicas. Enlucrando de sua energia e seu trabalho enquanto forçando-as a negar sua lesbianidade. Acusando lésbicas que querem ser visíveis de ‘serem divisivas’. Discriminação, desprezo ou indiferença em
torno de mulheres gays ‘apolíticas’.

Crítica
Repressão do lesbianismo não deveria ser colocada em primeiro lugar de uma crítica ao Feminismo. Apenas em alguns grupos isso tomou a forma inteiramente inclusiva (negação da existência mesma das lésbicas, prestar atenção apenas a puros problemas heterossexuais). Isso apenas foi politicamente promovido contra lésbicas políticas (não contra lésbicas feministas), ou seja, apenas para aquelas que procuravam estabelecer um movimento político abrangente baseado em Lesbianismo. Em grupos feministas radicais, por exemplo, lésbicas feministas ativas no MLF (Movimento de Libertação de Mulheres francês), trabalharam em questões de políticas de ‘identidade’, foram totalmente aceitos.

“Divisionista” – uma acusação elevada particularmente a lésbicas políticas tão cedo quanto elas tiveram expressado o mais remoto desejo por um movimento lésbico autônomo, ou fizeram qualquer análise criticando o heterossistema a qualquer extensão. A reclamação de que
‘lésbicas causam divisões entre mulheres’ nos parece vir, essencialmente, via teoria de estágios espontâneos. Essa é a teoria de que cada mulher deve subir um certo número de degraus na escada antes que ela atinja a plataforma de Feminismo e Homossexualidade. Sugere-se com isso que mulheres possuem apenas um conhecimento parcial da opressão, que elas devem digerir antes de passar para o próximo degrau. Nosso dever é, claro, alimentar elas de cada migalha de conhecimento, colocando toda nossa energia nessa tarefa, mas apenas dar a elas um bocado a cada tempo.

Mas essa técnica: a) sempre é acompanhada pelo terrível medo do ‘isolamento’ a medida que a mulher vai se tornando consciente da opressão poderia ficar amedrontada e sair correndo. No final do dia, ‘conscientização’, conhecimento, permanece objeto de terror, algo negativo que pode apenas impedir a luta. b) sempre requer construir um movimento monolítico de massa para a maioria das mulheres, apenas por reunir juntas como mulheres, sem objetivos políticos claros. A característica final desta técnica é convocar todas aquelas que não estão a favor de um imensa misturança heterossexual, isso conscientemente gerado em degraus lentos, terroristas. Dizer que você pensa do heterossistema, isto é da opressão, se torna em si um ato de terrorismo.3

2. Não colocar em questão a heterossexualidade como as políticas dos homens como uma classe. No máximo, heterossexualidade é desafiada como ‘norma’, em nome da liberdade sexual, que equivale quase a colocar Lesbianismo e Heterossexualidade no mesmo nível, reduzindo o problema a uma questão de sexualidade. Heterossexualidade é até mesmo justificada como o ‘campo de batalha’ da luta contra homens (e lésbicas não são nada senão desertoras covardes…) veja QF (Questions Feministes – Questões Feministas 4) No. 7, E. de Lesseps “Heterosexualite et Feminisme” La Revue d’en Face the Review Opposite No. 9-10 colaboração especial.

Crítica

Desenvolver a ideia de que heterossexualidade = as políticas dos homens como classe. O heterossistema em geral, e a heterossexualidade em particular, faz possível as condições materiais necessárias para eles, e a ideologia que eles incorporam; esses sistemas mantém a exploração e opressão de mulheres como uma classe por homens como uma classe. O heterossistema é o verdadeiro cerne da sociedade; não desafiar, não se empenhar em destruí-lo, faz qualquer tão chamada luta pela Libertação das Mulheres hipo-crítica e sem sentido.

Nos parece de fundamental importância repetir que heterosocialidade e heterossexualidade são a essência (a vera substância) do poder falocrático, do heteropatriarcado. De fato, não é possível, mesmo como estratégia, postular a existência do patriarcado fora da sua própria infra-estrutura, e subsequentemente uma heterosocialidade e heterossexualidade como uma invenção apolítica. Isto sempre foi o raciocínio feminista: cortar o conceito de patriarcado fora de sua essência, o que as permite, na análise final, ‘lutar’ algo imanente, desencorpado, efêmero, um tipo de deus (a campanha simbolista da psykepo é uma expressão direta desse tipo de Teoria Feminista). Este idealismo é evidente em cada análise Feminista; poder nunca tem nenhuma base, qualquer raíz, então não há estratégia para lutar isso. Tudo se torna uma série de abstrações, sem conexão, a classe dos homens meramente uma coleção de indivíduos.

3. Recusa em conceber uma separação estratégica dos homens: campanhas feministas terminam,de fato, em um endossamento, uma recuperação das relações macho/fêmea (olhe para o problema de campanhas em torno ao aborto, contracepção, emprego, mulheres agredidas, estupro…).

Crítica
A recusa em promover desenvolvimentos políticos entre todas ativistas feministas é vista como essencialmente na afirmação (repetida sobretudo por Delphy, cf Nouvelles Questions Feministes Novas Questões Feministas No. 1) da ‘diversidade do movimento’, tantos Movimentos de Libertação de Femmes quanto há grupos, etc…. em efeito implicando a idéia (naturalista) de que qualquer e todo grupo de mulheres está lutando opressão (qualquer coisa que fizermos como mulheres é Feminista, subversivo, etc…) Uma dessas pérolas anarco-sindicais de sabedoria sendo o Marais 1000 4, uma tendência que provou ser a quintessência desse culto da espontaneidade. Cada mulher é uma tendência feminista em si mesma, nenhuma teoria é possível. O movimento é todo-importante, o objetivo conta para nada. Por isso o perpétuo rodopiar do pião, um questionamento sistemático de cada proposição, cada análise. Se torna uma deliberada inabilidade de retirar qualquer lição do passado. Mas isso não nos engana. Isso indica a presença de uma liderança escondida por trás das cenas, uma liderança que é mais perigosa por não ser estruturalmente reconhecida. Uma das consequências dessa deliberada vaguidão foi de que todos grupos lésbicos com posições similares foram acusados de sectarismo e stalinismo…

A ideia de que naturalismo é anti-lésbico precisa ser desenvolvida. Lesbianismo anti-político: a recusa em ver lesbianismo radical como uma posição política, um ataque ao sistema falocrático. A asserção de que lesbianismo é meramente uma questão de preferência sexual pode apenas ser teoricamente justificada por um conceito naturalista de desejo (lésbicas desejam homens e não mulheres). Se ‘desejo’ não é político, isso pode ser apenas uma questão de natureza (instinto, ou para dar a isso uma forma mais moderna, psicanalítica: pulsão).

Mas, se desejo, incluindo desejo por homens, não é político, então heterossexualidade deve ser vista como natural. É bem interessante examinar essa posição. Nós já sabíamos que para Feministas heterosexualidade é, basicamente, natural (mesmo que elas tenham feito declarações superficiais do contrário) mas isso mostra que para elas, também, nós continuamos a ser vistas como ‘contra a natureza’.

É óbvio para nós, por outro lado, que lesbianismo é anti-naturalista, não apenas porque é político, mas também porque, conscientemente ou não, é antagonístico a feminização. Que algumas lésbicas ainda considerem a si mesmas contra a natureza é outro problema.

5. Ambiguidade do termo ‘feminismo’. O sentido predominante desse termo é “lutar por mulheres”, enquanto nós queremos destruir Homens e Mulheres como categorias sociais. O termo Lesbianismo Radical faz separação dos homens bem clara (ver Monique Wittig QF no.8).

Nota: algumas Lésbicas Radicais fizeram as seguintes objeções:

– por que não podemos reter o termo Feminismo e dar a isso nosso próprio sentido?
– Não seria o termo ‘heterofeminismo’ mais acurado para entender nossas críticas?

Críticas

O termo ‘Feminismo’
– falando de maneira geral, ser uma feminista significa lutar pelas mulheres
– há um passo curto disso para ‘Feminismo iguala mulheres’ então ser anti-feminista pode apenas significar ser anti-mulher (nós precisamos pensar a origem naturalística dessa posição).

1. Feminismo é a teoria dos homens e mulheres que clamam lutar pela liberação das mulheres sem atacar o heterossistema. Feminismo é uma teoria totalitária que clama estar sozinha nessa luta contra a opressão das mulheres.

2. Algumas Lésbicas Radicais permaneceram atadas, por razões históricas ou outras, ao termo ‘Feminismo’, assertando que de fato Feminismo é a luta pela liberação das mulheres, que a lógica dessa luta é lesbianismo político e que qualquer Feminista que não é também uma Lésbica Radical, não é uma Feminista real. Esse conceito é perigoso até o ponto em que:

– causa confusão geral que, dado o estado de nossos recursos, estaremos incapazes e desfazer rapidamente (algo mais que a subta confusão causada por psykepo 5 entre Feminismo e o MLF foi desfeita na maior parte das mentes das pessoas).
– mais ainda, declarando feministas, nossos adversários políticos, sendo não-feministas e então, a uma certa extensão, eliminando o problema colocado pela existência de um movimento relativamente poderoso, é subestimar os advesários em questão e privar a nós mesmas dos meios de lutá-los.

3. O termo Feminista se refere a mulheres, o que é escarçamente apropriado para nós desde que estamos lutando para destruir as classes sexuais e, particularmente, porque nossa luta começa da única posição política, social,capaz de validar isso, a separação de homens claramente expressa no vero termo que nos descreve: Lesbianismo Radical.

4. As análises precedentes fazem isso claro de que enquanto a idéia de ‘recuperação’ heterofeminista pode ter sido um estágio da nossa crítica e o começo de nossas análises, agora pode apenas parecer redundante.

É interessante refletir seja onde há ortodoxia feminista, assim como há ortodoxia marxista ou cristã. Em efeito, de acordo com aquelas lésbicas, nós estamos, logicamente, representando a dominação de uma tendência revisionista dentro do movimento feminista. Nós devemos também considerar onde essa tendência Feminista Radical, comparável com Lesbianismo Radical, existe em qualquer lugar outro que na mente.

B. Lésbicas fora do Feminismo

É importante analisar o potencial do Front Homosexuel d’Action Revolutionnaire 6 (Frente Revolucionário de Ação Homossexual ou FHAR) do seu começo: primeiro porque ele foi fundado por lésbicas, segundo porque ele apareceu ao mesmo tempo que o MLF. Nós precisamos explicar por que esse movimento homossexual não obstante, foi incapaz de desenvolver-se como um movimento político lésbico autônomo (independente da MLF e do Feminismo). Por quê algumas das lésbicas que providenciaram esse ímpeto rapidamente foram levadas a um duplo ativismo (lésbico e feminista) de modo a silenciar o que havia sido a essência de sua luta, i.e. Lesbianismo? A falha da FHAR em desenvolver-se num movimento lésbico forçou algumas lésbicas no MLF, reforçando-o e devotando toda sua energia numa luta que não era a sua (mesmo se, naquele momento, elas não tinham a mesma análise do Feminismo que nós temos agora). De qualquer forma, muitas lésbicas se juntaram ao MLF antes de se tornarem feministas, acreditando que encontrariam outras mulheres gays. Outras, que nunca tiveram posto um pé nele, não se sentindo envolvidas na luta se juntaram ao Frente Lésbico Radical por meio duma ruta não-feminista (possivelmente via grupos gays, etc…).

2. Nós também precisamos analisar o papel que o Groups de Lesbiennes de Paris 7 (Grupo Lésbico de Paris, ver Masques No.1-8) pode ter jogado. O ímpeto desse grupo foi provido por lésbicas não-feministas (que rejeitaram feminismo como uma recuperação da heterossexualidade) embora um grande número de lésbicas feministas tiveram passado por ele.

C. Lésbicas dentro do Feminismo.

Por outro lado, houveram poucos grupos lésbicos (Gouines Rouges – Sapatões Vermelhas), Grupos Lésbicos Feministas, etc…).

1. Esses grupos não viam o lesbianismo como a base de suas políticas, mas aceitaram a divisão

– lesbianismo como experiência vivida, emoção, sexualidade, cultura
– feminismo como dimensão política

2. Eles eram então incapazes de ir além de discussões sobre ‘experiência pessoal’ (mais frequentemente que se imagina, de fato, havia uma série de relatos pessoais sem qualquer análise real) para formar uma prática política coletiva. Todos estes grupos terminaram se dissolvendo.

3. Por que haviam esses limítes e contratempos?

Possíveis explicações:

– O peso da norma feminista: lésbicas sendo vítimas da ideia de que a única teoria-políticas-ideologia no interesses das mulheres é o Feminismo.

– As lésbicas podem ter apoiado essa teoria por conta duma alto complexo de culpa internalizada onde Feminismo parecia ser uma segurança respeitável para Homossexualidade.

Crítica:

É importante reconhecer que alguns grupos lésbicos não baseavam a si mesmos puramente em ‘experiência pessoal’.

Exemplos: o grupo que formou-se depois da publicação de Masques No. 1 foi organizado especificamente em torno de uma crítica dessa publicação num jornal e a linha que este tomou, i.e., uma negação das classes sexuais e, portanto, uma negação da exploração e opressão de mulheres como uma classe por homens como uma classe. O grupo tomou uma posição inteiramente oposta até o ponto que queria por um lado apoiar ao Feminismo Radical e, por outro, criticar todas as análises lésbicas de mulheres que produziram o jornal.

Outro grupo procurou reforçar Feminismo Radical com o peso do Lesbianismo político. Este grupo se recusou a entender que elas ainda estavam argumentando nos termos do inimigo, perpetuando a ilusão de que eles estavam se apropriando e transformando Feminismo Radical.

Nós pensamos que é também importante lembrar:

– a inabilidade teórica (veja as análises feministas) de entender ou desenvolver políticas lésbicas específicas começando por nossa prática social e posição específica na sociedade.
– confundindo, e portanto mitificação das lutas do passado.
– os pseudo-benefícios que poderiam derivar de ativismo político junto a mulheres heterossexuais.

Num movimento onde lesbianismo parecia (para algumas mulheres) ser a lógica do Feminismo, fomos colocadas no papel de sedutoras, precisamente porque nós somos vistas como as mais ‘coerentes’ e ‘lógicas’ (é interessante notar, uma vez mais, que a ‘conversão’ heterossexual ao lesbianismo parece somente ocorrer na cama. Esse processo continua em (ambos) MLF, graças a maravilhosa teoria das etapas. Que senso de poder!)

D. Dez anos de história do MFL

Questões

1. Reavaliando o ‘feminismo radical’ (dos setenta).

Que estamos a fazer de seu papel no começo do MLF durante a onda de revolta, denúncias, rompimentos com as políticas tradicionais e a nova consciência dos numerosos aspectos da exploração e opressão das mulheres?

Que iremos fazer de seu papel com relação a lesbianismo? Não contribuiu ele para a negação do lesbianismo (mesmo que a maior parte das Feministes Revolucionnaries fossem lésbicas)?

O que é bem claro:

Os becos sem saída de sua teoria
Sua inabilidade de definir uma estratégia
Sua recusa em enfrentar heterossexualidade de frente(de uma outra olhada em C. Delphy ’L’Ennemi Principal’ O Inimigo Principal em Partisans Liberations des Femmes annee zero Apoiadores da Libertação das Mulheres, ano zero).

Crítica

Embora seja importante analisar a tendência Feminista Revolucionária dentro do MFL, nos parece igualmente importante não confundir o comportamento pessoal de invidualidades com uma análise objetiva. Nenhuma análise da tendência Femnista Revolucionária pode ser feita sem referência a FHAR.

2. Psykepo: arquétipo da tendência Feminista socialista que, a despeito de aparências, permaneceu como um grupo coerente por 10 anos, esboçando suas justificativas de uma teoria naturalista.

3. Muitos anos de hegemonia, de ‘feminismo luta de classes’ (no sentido tradicional) ou ‘feminismo socialista’ buscando apenas trazer as lutas de mulheres alinhada com organizações masculinas na esquerda extrema (i.e., um conceito proletariado-burguesia de políticas).

4. Um período de algum modo difuso distinguido por um número de iniciativas (ação violenta, ‘retome as noites’, feminismo como uma ‘força política compreensiva’, ‘coordenação horizontal’…)

Foram essas tentativas de romper ou… de jogar uma água fria no feminismo?

Isso não parece que poderia, de coração, ser a questão de qualquer um dois dois, mas, ao invés disso, do desejo de reforçar uma corrente (mais radical) que já existia no MLF (veja abaixo). Isto não poderia, em qualquer sentido, ser uma questão de romper desde que cada ação permanecia dentro do panorama do feminismo e foi baseado nisso. Nenhuma perspectiva lésbica emergiu durante essas ações, não se é pra falar de uma análise lésbica ou lesbianista. Teorias de violência não podem ser igualadas com teorias de Lesbianismo. Nem toda violência é lésbica, mesmo se Lesbianismo é ‘violento’.

5. A situação hoje

– aliança entre uma parte do Feminisme Revolutionnaire (tendo perdido muto do seu radicalismo dos 70) e uma parte do Feminismo Socialista (forçado a aceitar a sua própria autonomia, dada a quase total disaparição da Extrema Esquerda).
– séria crise… revelando o beco sem saída a que Feminismo havia chegado, mas negado por feministas que atribuem as dificuldades a causas externas: des-radicalização, psykepo, a mídia… (ver o editoral de NQF No.2)
– como irão sair dessa encruzilhada? diversas hipóteses: aumentando a institucionalização? desenvolvendo um feminismo socialista Marxista (ver ‘Marxisme et Feminisme’,discussão organizada por ‘elles voient rouge’ el*s vêem vermelho) 10
– o que vai passar se não conseguirem sair?

Crítica

Nós acreditamos ser incorreto colocar a questão ‘E o que ocorre se elas não saírem?’. Isso poderia, com efeito, negar a natureza de feminismo. Feminismo não pode alcançar um beco sem saída, ele é um beco sem saída para a liberação de mulheres. Se acreditarmos que Feminismo, ou Feminismos, são encarnações teóricas do poder falocrático (ou do sistema heteropatriarcal ou sexista, veja as discussões recentes sobre o movimento lésbico) nós não podemos logicamente acreditar que eles podem desenvolver numa luta de libertação e então decair em um cul de sac. Nós devemos, ao invés disso, analisar o que faz dele intrinsecamente um beco sem saída, uma teoria de como recuperar opressão. (Nós não devemos negar nem mesmo as mínimas vantagens que isso pode trazer para mulheres heterossexuais dentro da estrutura de opressão). A crise do MFL aponta mais claramente o que Feminismo é; mas, como um produto da ideologia dominante, (embora no presente principalmente organizada por mulheres) ele adapta à realidade material e toma diferentes formas. Se amanhã a principal tendência for Feminismo socialista (ou marxista), isso poderia simplesmente expôr sua habilidade em adaptar, ao invés de qualquer mudança qualitativa. O MLF, como qualquer outra coisa, poderia facilmente tomar uma aparência distinta.

Desde que Feminismo, a despeito do que ele tentou nos fazer crer (veja o editorial do QF No. 1), nunca foi uma teoria científica capaz de analisar a realidade objetiva como um todo, ou fazer respostas estratégias e lutar para transformar essa realidade, é tempo de falar claramente sobre a nossa luta contra esta. Não é porque sua prática procede logicamente desde suas primeiras premissas que nós rejeitamos, abandonamos e lutamos. Pelo contrário, é porque esta é uma das mais refinadas artimanhas na história. Que é essa teoria científica que ‘esquece’ suas bases heterossociais em sua análise da realidade? (tudo que estamos fazendo aqui é seguir o raciocínio acurado da própria C. Delphy em ‘Pour un Feminisme Materialiste’ Por um Feminismo Materialista que apareceu em L’Arc sobre Simone de Beauvoir e a luta das mulheres. Seu raciocínio funciona da seguinte forma: é inútil obcecar-se por premissas que são então reveladas como vazias em cada disciplina individual; nós sabemos que a premissa básica da sociologia, por exemplo, implica a negação da opressão de mulheres e consequentemente,

– são incapazes de tomar isso em conta, são incapazes de encontrar no final da jornada o que estiveram intencionalmente negando.
– podem apenas conciliar e então contribuir para perpetuá-la.

O que faremos nós a respeito desse discurso ‘anti-naturalista’ que inclui a teoria da complementaridade via heterossexualidade (homem + mulher = criança) em suas premissas básicas, justificando opressão e exploração? O que faremos a respeito dessa teoria que sob o pretexto de não cortar a si mesma de, ou ser entendida pelas mulheres DES FEMMES, oculta delas a jaula na qual vivem, mesmo que devam cobrir de ouro as grades com textos, demonstrações e demagogia. Que efeito podem ter as táticas de guerrilha heterossexuais de pílulas e abortos sobre exploração? A única estratégia possível dos (vários) Feminismos é reforma de acordo com o desejo dos homens. (escravidão Sexista tem um futuro rosy depois disso).

É também importante analisar a significância do MLF da

– criação do FLR Front Lesbien Radical – Radical Lesbian Front
– a saída de muitas lésbicas, particularmente as mais radicais, do MLF.
– as contradições criadas por discussões sobre lesbianismo.

Tendo falado muito sobre isso, foi impossível que muitas mulheres pudessem permanecer indiferentes (Cf La Revue d’en Face que se sentia obrigada a fazer uma apologia à heterossexualidade); “Elles voient rouge” que queria “tomar conta da dimensão lésbica”; a criação do MIEL 11, etc…]

E. Lesbianismo Radical

1. Sua aparência proximamente dois anos atrás não é mero acaso.

Causas:
– a crise do Feminismo removeu um dos seus obstáculos, nos deu mais espaço, fez urgente criar uma alternativa… (mas nós contribuímos um pouquinho também para colocar este numa crise!)
– a convergência de muitos tipos de desafios ao Feminismo (embora eles não considerassem a si mesmos desafios ao Feminismo, mas à ideologias e práticas dominantes).

Crítica

“A crise do feminismo nos deu mais espaço”? É isso realmente uma razão? Esteve o Feminismo florescendo (em reformismo e Heterosocialidade, naturalmente) poderia o começo de uma consciência política Lésbica ter sido impossível? Nós não nos tornamos Lésbicas radicais por meio de desacato (nem um pouco mais que nos tornamos lésbicas por desacato!). É mais provável que a institucionalização do Feminismo, assim como uma certa maturidade (depois da alegria de ’sermos mulheres juntas”), combinada com o desenvolvimento de teorias feministas que eram inconsistentes e levaram apenas a um beco sem saida, e teorias de heterossexualidade feminista (tendendo a grupos mistos), pavimentaram o caminho para a emergência do Lesbianismo Radical

Não há crise do Feminismo, a menos que reduzamos Feminismo a uma única tendência no MLF. Isso seria certamente errado negar que feminismo radical está em crise, mas isso não representa seja o Feminismo seja a MLF.

Se essa tendência está em um ponto crítico, é porque nós temos, de um jeito essencial, colisionado com ela frontalmente. Lesbianismo radical desenvolvido de uma crítica dessa tendência, dentre outras razões. Foi desde então impossível parar seu desenvolvimento. O próximo passo lógico foi a criação de um movimento lésbico autônomo (independente do Feminismo).

Enquanto examinamos o desenvolvimento histórico de uma tendência política é importante olhar principalmente a suas próprias contradições internas, não à contradições pré-existentes (Feminismo, Lesbianismo dentro do MLF). Senão seremos apenas aptas a ver lesbianismo em relação a Feminismo, e o FLR em relação ao MLF.
O papel jogado pela convergência de diferentes tipos de desafios foi vista acima. Sabemos muito bem, além do mais, que a vasta maioria destas ‘desafiadoras’ permaneceu no MLF.

Que podemos fazer em relação ao Feminismo?
– autonomia (mínimo requerido)
– pensamos que é essencial, no momento presente, separar-se do Feminismo, permitir nossas próprias idéias progredirem (Mas o problema é unir-se em torno da questão que colocamos no começo: deveríamos dar à palavra Feminismo um novo sentido, ou não?)
– também precisamos refletir sobre a história do MLF:
que são os pontos finais?
qualquer ganho esperável? ou não há nada positivo?
que impacto isso teve nas mulheres, sociedade, homens como uma classe?

– e um dilema político:

que respostas poeriamos fazer às questões que inúmeras mulheres possuem nesta questão?
que braços a mais na nossa luta nos dá uma análise do passado?

Crítica

– que atitude devemos adotar em torno das correntes lésbicas dentro do Feminismo (obviamente precisamos examinar os meios que empregamos de alcançar lésbicas como um todo).
– é importante ‘coletivizar’ nosso conhecimento, documentos, textos históricos, relatos pessoais… como a base de um trabalho coletivo.

Notas

1. Front Lesbien Radical (FLR) – Frente Lésbico Radical
2. Conferência ocorrida em novembro de 1981 para a qual este texto foi uma contribuição dentre outros.
3. I.e., é considerado uma obstrução deliberada de um movimento para os ‘direitos’ das mulheres.
4. Seu nome real era ‘Les Mlle et une tendances’.
5. Psychanalyse et Politique, uma tendência baseada numa perspectiva naturalista que tentava alcançar a hegemonia do MLF por apropriar-se do nome (Mouvement de la Liberation des Femmes) como sua própria marca registrada.
6. Um grupo gay ativo de 1971-1973.
7. Ativo de 1978-1980.
8. Jornal gay misto publicado em 1979-1984.
9. O primeiro grupo lésbico no MLF (1971-1973).
10. Jornal de uma tendência de feministas que eram ao mesmo tempo membras do PCF (Partido Comunista Francês).
11. Mouvement d’information et d’expression des Lesbiennes, grupo lésbico feminista, começado em 1980.

Retirado do livro “For Lesbian only – a separatist anthology” Sarah Lucia Hoagland & Julia Penelope.

 

Breve Resenha de Algumas Teorias Lésbicas, Jules Falquet

Tradução de texto de Jules Falquet, feminista lésbica francesa, que faz um recorrido pelas teorias e histórias lésbicas, traçando um panorama geral de como foi o desenvolvimento das idéias e pensamento lésbico.

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