Isso não é uma poesia acho que é uma brisa

Hoje sim linda

é noite de lua cheia
e eu estou conectada a ela
também estou cheia
estou cheia de você
dentro do meu coração
k transborda
alegria
dando energia pro meu corpo brincar
Você é igual a capoeira
ritualística
tem um monte de segredos
é um infinito inteiro
k todo dia me ensina
um poukinho a vadiar
É livre k nem o vento
faz k vai pra depois fingir k vai voltar
malandreando
com o passo cambaleante
É uma caixinha de surpresa
capaz de trocar o sagrado pelo agrado
Me alucina
me deixa ébria
fico tonta somente com as gotas de tua saliva
E os Tambores de Safo
vem celebrar o sal de tua pele
em minha língua
por FORMIGA

 

Saudações humanas…

“Bem -vindas …………… .

Sabe, eu sou lésbica há 30 anos. Eu me assumi quando tinha 21 anos, e em uma semana faço 51.

Vocês sabem do que a comunidade lésbica precisa?

Nós precisamos de um fórum cultural. Nós precisamos de um lugar na natureza, onde possamos ir e fazer o que fazemos melhor, que é celebrar a Mãe, celebrar umas as outras, amar umas as outras, falar de nossas vaginas, falar de nosso sangue, falar de nossas crianças, falar de nossas netas/os, falar da Mãe Terra, falar sobre consciência lésbica. E nos juntarmos e usar nosso poder enquanto mulheres para avançar nossa causa e nossa jornada.

Nós estivemos tão presas nessa conversa de identidade de gênero, e quem é realmente mulher, quem pode ser mulher e quem… Sabe, nós tivemos que lutar e gastamos muito tempo pontuando/dizendo algo que não tem como ser pontuado.

Por que deveríamos considerar tanto questões sobre identidade sexual, de gênero, masculina? ..Num momento em que nossos restaurantes estão sendo fechados, as estruturas educacionais que construímos, nossas organizações,…

Isso não é progresso. Quando a cultura e a identidade lésbica estão sendo diminuídas e nós não podemos dizer que somos mulheres, nós não podemos celebrar nossos seios, nossas vaginas, nosso sangue e nós estamos sendo barradas/excluidas na mídia, nas nossas comunidades. Isso é opressão.

Então o que pessoas oprimidas fazem? Não se dá a eles essa atenção, o que fazemos é dar a nós nossa atenção, dar às nossas causas nossa atenção, dar a nossa sexualidade nossa atenção, dar nosso cuidado.. Nós estamos ficando velhas, algumas estão tendo bebês, sabe, estamos em diferentes fases da nossa vida. Somos masculinas, somos femininas, somos andróginas, somos muitas coisas, mas somos mulheres e somos lésbicas e precisamos nos juntar. Temos que perceber o tempo nesse planeta, a divindade está nos chamando, a Mãe está nos chamando, esse planeta está em perigo, está sob o patriarcado e misógina há tanto tempo que estamos programas a brigar de uma forma.. Nós não… Nós temos uma inteligência entre mulheres e lésbicas que é muito mais abrangente do que o que esse planeta tem nos oferecer nesse momento. E eu imploro a nós mulheres que nos juntemos, usemos nossa babailá, nossa bruxaria, nossa ioruba, nossa medicina ancestral. Para que nós passamos fazer por nós o que sabemos que deve ser feito. É tempo pra isso. Esta na hora de todas as mulheres que amam mulheres se juntarem e dizerem a verdade sobre quem somos. ”

pippa fleming

lobas

os olhos selvagens me olham de volta
nós sabemos de onde temos que fugir
(mas não sabemos pra onde ir)
nós uivamos para a lua
e quando a madrugada vira mar
corremos
a pata pisa o chão escuro
(meu pé também é sujo)
desejando ser peluda e quente como você
ter sangue selvagem
fundido em lua e sangue
na beira das arvóres
no fundo do mato
nos escondemos ainda achando que podemos ser livres
ainda achando que a grande deusa vai nos proteger quando eles chegarem

(monalisa lemure)

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medusas

 

a ânsia do poema
mais um dia
mais uma noite: sozinha
ando pelas ruas caçando um espelho
qualquer reconhecimento que seja
ela surge, ela cruza
dou um oi silencioso
por ela nunca ouvido

não temos terra
não temos posses
mal temos nossas pernas

a mulher não existe
existe? será?
e a lésbica
onde ela está?

as palavras são cuspidas no papel
e de que forma poderia ser?
não há tempo para a beleza
para voltas e rodeios

mal há tempo pra viver

não sei se sombras ou bestas
se fantasmas, não sei
seriamos mitologia?
há cobras no lugar de cabelos?

e é assim que resistimos
no nada do lugar vazio

 

monalisa lemure

(sem título) 3/11/09

calma mana

eu sei ki tá foda mas

nos somos sobreviventes de violência até o fim
são marcas ke tão no nosso corpo
se não ficar como trauma vai ficar no subconsciente
mas agente é bicho faz parte da natureza
então minha amiga agente pode se regenerar
pô meu mó vida sofrida
que agente carrega ancestralmente
mesmo como pessoa branca a caça as bruxas é uma grande prova
histórica da misoginia patriarcal europeia
as preta então é pesado demais  tem história de sequestro
colonização escravidão estupro misigenação na América
a nos carregamos isso
mas quero carregar como argumento antipatriarcal e transformar a dor
que eles infligiram sobre nossos corpos em luta
porque não queremos mais ser servas, nem esposas nem escravas
queremos viver como lésbikas punkAs sem pátria nem patrão
minha mátria é onde tiver mulheres
então me ligo a não pelo território ou pela língua
mas pela sororidade
é muito importante agente adquirir autonomia

pra nossas namoradas

e amigas não serem nossas mães igual você falou
mas agente é irmã e também como forma de carinho
e não de dependência
queremos ser cuidadas
agente precisa sair do isolamento que a grande metrópole impõe
e pra se fortalecer e superviver construir uma comunidade afetiva
na moral
o patriarcado acabou com minha relação
porque me machucou a vida toda
eu machuquei ela
e o patriarcdao machucou ela
e agente não consegue mais
compartilhar prazer
porque agente é ferida viva
eu me cobri de palhas então quase ninguém vê
as chagas abertas
mas quando agente vai dormir eu
preciso tirar
e ela me vê como sou
e começo a contar piadas pra ver seu sorrisso
iluminar a escuridão do quarto
dai eu começo a falar de tudo que me apaixona
pra ela saber que sou capaz de amar
mas elas ardem
já a minha linda
não consegue se esconder tá doendo e pronto
tava doendo tanto que quando que abracei
ela
sentiu tudo dolorido
eu sonhei ter um amor eterno
como pede a propriedade privada patriarcal

essa tristeza ki eu tô sentindo vem dai do sistema

mas ai na real
somos bruxas
tenho uma matriarca preta dentro de mim
é minha ancestral
ela me guia ilumina minha caminhada
em busca de rodas
onde eu possa sentir a essência do tribal
e nunca deixa eu cortar os pulsos

a vida do planeta ki está aqui e bilhões de anos
é mutável

a vida é tipo igual a roda de capoeira angola
saca
tem começo meio e fim
é isso mesmo
sou amazona em fúria
e o amor mais longo que eu posso ter é
o amor próprio é me cuidando que cuido da minha comunidade
amor próprio é espada e escudo

meu e da sororodade
eu vi vc tão feliz no rolê das sapatão

seus olhos brilhavam em vários momentos

eu curti muito também

eu sem querer fiz elas rirem
e descobri dores incomum
acho que se pá é assim que eu vou curar
a solidão lésbika
não dentro de um casamento mas na coletividade com as irmãs
da hora quero continuar
e se pá estender pra fazer
contra-cultura lésbika
pra gente ter mais e mais espaços de socialização antimercantilista
valeu mana
sapatão é noiz
por FORMIGA

livreto EU-LESBIKA por FORMIGA

EU-LÉBIKA é um livreto de poesias, que inspirado da ideia faça você mesma tem formato de fanzine. São 14 poesias de sobrevivência favelada, uma KOR-pa miscigenada que só consegue resistir reivindicando negritude por de rebeldia afropunk, na qual o pogo é a própria ginga. Em nome de uma sororidade feminista gravada em memória afetiva, denuncia mazelas sofrida por mulheres-irmãs. Ousando vociferar nas ruas a paixão lésbica, além de um ato de profundo ginoafeto e desmisogizanação, é uma ação direta antipatriarcal. Vem afirmar por meio das rimas, como um tambor-coração conectado com a ancestralidade, que o pessoal é político!

(resenha por formiga)
manas
próximos lançamentos: Feira do livro anarquista de SP, Festival de Filme Anarquista e Punk de SP.
pontos de venda: festas desamélia, feyras limdas, círculo de reflexões lesbafeministas, contato direto com autora ou com a editora.Também se tiver interesse em adquirir, pode comentar nessa postagem ou escrever para heresia.lesbica@riseup.net
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Trecho de uma carta de Sheila Anne, lésbica separatista norte americana

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“O separatismo lésbico é nosso desejo de amar a nós mesmas e a outras lésbicas enquanto lésbicas. É um impulso vital de sobrevivência. Ao enfocar no amor e o cuidado pela vida das lésbicas, nós criamos um mundo de criaturas amorosas, onde há espaço para um Eu e um Outro de mulher. Para criar este mundo, conscientemente escolhemos viver num processo de separação dos indivíduos, instituições e forças internalizadas que odeiam e destróem as mulheres/lésbicas e todas as outras formas de vida do planeta. Nós nos separamos desses indivíduos, instituições e forças internalizadas (as injúrias insidiosas que jogam umas contras as outras) de todas as formas possíveis. E constantemente nos desafiamos a expandir estas formas possíveis… Não há um único modo de ser uma lésbica separatista ou de viver o separatismo lésbico (…) De qualquer maneira, enquanto estamos nos separando do heteropatriarcado, com menor ou maior sucesso, em diferentes áreas de nossas vidas, o importante é lembrar que permaneceremos num processo contínuo de união com outras lésbicas, criando comunidades que atendem às nossas necessidades. É certo que, às vezes, o que buscamos é nebuloso. Nós caminhamos do que sabemos para o que desejamos, assim é mais fácil definir do que estamos nos separando para onde estamos indo (…) O separatismo cria a possibilidade e o espaço vital para pensarmos assim.(…) Lésbicas são seres muito poderosos que podem criar, neste mundo, o mundo que imaginamos”. (Boletim Um Outro Olhar, nº 16 outono de 1992, p. 25)

Seis Sentidos

Especialmente pra Xis

O negrume dos teus olhos me fascina como de costume revitaliza finda toda dor linda cor admiração se canalizam em ardor lábios se tocam em carinhos sábios provocam caminhos em percursos vários é fato experimento teu relevo no meu tato nua que causa a luz da cheia lua calor sem pausa vou que vou de leve essa pele me pede apele mede palmo a palmo intensamente com jeito calmo suspiro profundamente no seu cheiro eu piro e sigo em frente como eu braseiro vou fitando seu modo meigo rebolando tipo uma cuíca quanto mais arrepica mais estridente teu gemido fica é quente o clima vai e vem por cima soa a minha e sua pessoa nessa fusão loka malícia boa delícia é tua boca serpenteia na minha mão está posto sente teu próprio gosto nos meus dedos então teu gozo minha satisfação um querer nada bobo e ai vamo de novo?

 por FORMIGA

poema: A Ameaça Lésbica*

Tenha cuidado:

Não to falando de estuprador
Este pode ser reformado.

Isto não é sobre namorado agressor
Não é sobre misoginia dos gays
Não é sobre hostilizar mulher
Isso é sobre um perigo maior

É sobre uma sombra predatória
Uma ameaça potencial
Um perigo pra toda hetero e bissexual

Não é sobre difamação
Não é sobre hostilidade horizontal

Essa poesia
Não é sobre agressão às mina
Não, isto é sobre
As lesbofeminista

E todas as suas amigas.

Ouvi dizer que você a elas se associa
É verdade? Vim verificar
Não que eu já tenha te visto
De qualquer forma esbravejar
Ou mesmo falar
Na real você é bem quieta né

Assim, eu só não quero me misturar.

Eu li uns textos
As mina nem eram do Brasil
E também ninguém me propagandeou
Mas tipo, mor texto hostil
Me fez mal, me culpabilizou
Então diga, você se associa
A essas lesbofeministas?

Você me acha colaboracionista?
Acha, acha?!
Sei que tu nunca disse nada
Mas to aqui te perguntando

Não, não quero saber
Se você discorda da Bev Jo
Ou da Sheila quando ela começou
E até onde você pensa por si
Enquanto admira esses textos
Ou por que, enquanto butch
Viu sentido neles mesmo

Só quero saber
Você é lesbofeminista?

Não, ninguém veio me impor
Não, ninguém veio defende-lo pra mim
Mal responderam às minhas críticas
É, realmente, bem quieta essas mina

Mas o silêncio de vocês é tão ofensivo
Como assim, vocês não querem falar comigo?!

Três ou quatro caminhão se ajudando
Em vez de gastar seu tempo com o mundo?
O que poderiam, afinal, estar tramando?

Criança quieta tá aprontando
Lésbica quieta tá me hostilizando

por Nina Scarnia
* Referência à idéia de Lavender Menace, que foi a acusação feita nos 70 por Betty Friedam, feminista autora de A Mística Feminina, pois identificava nas lésbicas uma ameaça ao feminismo.

Lesbofobia

por Nina Scarnia

Deixamos você entrar

Pelo prazer de te expulsar

Queremos você aqui

Pra mostrar

que podemos te arremessar

Pra longe, longe do nosso chão

No qual você só pisa se

quisermos

E deixamos só pra te ver

Correr

Depois que te humilhamos

No estupro, na porrada

Nas palavras

A vida não passa diante dos olhos

É bem a morte que mora em você

Que se materializa em homens

Enormes

Estilhaços

Nada mais é visto como todo

Seus olhos entre ser mulher

Ser lésbica

Ou ser humana

Nunca ser levada a sério

Apenas na porrada

Gritar lesbofobia

Te faz louca

manipuladora

Desonesta

E errada

Tudo menos lésbica

Pior que um animal

Mal chega a ser um objeto

Quasímodo sexual

Corpo raso

Mal formado

Terceiro sexo

Muito abaixo

Muito abaixo

Muito abaixo

(setembro/2014)