Panfleto com análise lésbica sobre movimento contra a reorganizacao escolar em SP. Talvez sirva para o restante dos movimentos de toma de escolas pelo país.
Qual o lugar das lésbicas em lutas sociais? Qual é o sentido da lésbica participar de um movimento para impedir o fechamento de escolas públicas?
Em primeiro lugar, queremos dizer que a lésbica é uma posição política radikal contra o patriarcado. A lésbica não é apenas uma preferência afetiva, é uma ação rebelde de desobediência da heterossexualidade (regime político para manter exploração dos homens sobre as mulheres) e uma ação de resistência e independência das mulheres . Entendemos os gêneros como classes/castas sexuais criadas artificialmente pela Dominação Masculina, e entendemos que o ato de ser lésbica é sabotar, fugir dessa classe, deserdá-la, atacá-la, incendiá-la e assim atrapalhar o bom funcionamento do Patriarcado, do Capital, do Estado e da Civilização . Ser lésbica é estar fora do Patriarcado, num processo de saída da civilização masculina. Portanto, a lésbica é uma posição que
questiona e que anseia pela demolição de todas instituições existentes advindas daí, incluindo nelas as escolas.
As escolas são aparatos de dominação ideológica do Estado, são instrumentos de adestramento. A escola é um instrumento do heterossexismo: que caminhoneira não sofreu lesbofobia na sua juventude? É um instrumento da heterossexualidade compulsória: que menina e lésbica jovem não foi pressionada a relacionarse com meninos, dentro da escola? Quantas de nós não cabulamos aula por não terem sentido nas nossas vidas ou fomos humilhadas por professores,corrigidas? Os conteúdos passados omitem a existência das lésbicas, é a ciência e história patriarcal, onde figuram os homens e suas guerras. A escola é mais uma instituição policial, onde sofremos autoritarismo, onde as pessoas aprendem obediência, um instrumento de alienação como a Mídia.
Logo, enquanto lésbicas radicais insurgentes, não estamos aqui pela recuperação das escolas, mas pela destruição delas. Queremos destruir a educação existente. Não vamos às ruas pedir nada ao Estado, senão que para enfrentá-lo. Não vamos as ruas para conquistar ’demandas’ como ’suspender reorganização escolar’, ’baixar tarifa’ nem tampouco
contra um político (que só legitima o sistema representativo do voto)mas contra todo Poder instituído. *Porque uma vez que essas demandas são cumpridas só terminam por reforçar ainda mais a sociedade e suas estruturas,* quando queremos é o fim dessa Sociedade e não a melhoria das jaulas nas quais nos encontramos escravizadas assalariadas ou mendigas do Estado/Patriarcado. Não tem que reivindicar escola ’pública’ (não reconhecemos o ’público’ enquanto ’comum’,o público é do domínio do Estado), senão que [re]tomar todos espaços existentes para nós e reinventá-los.
Por isso vemos o movimento de ocupação das escolas como legítimo, porém não achamos que deviam ser ocupadas para pressionar nenhum governo, senão justamente para tomar esses espaços do Estado: para que fossem definitivamente autogestionadas pelas pessoas! Tem que se destruir a educação existente, assim como tem que destruir os metrôs e ônibus que são uma aberração nociva da civilização e do patriarcado que só destroem nossa saúde e autonomia. Isso será conseguido por nós e não dado por nenhum Estado ou Autoridade por meio de desfiles pacifistas que vem caracterizando o inefetivo movimento feminista atual, crente na farsa da ‘democracia’.
Qual a situação das mulheres e lésbicas no movimento de escolas ocupadas?
Ocupar é uma ação direta radical, mas a pauta do movimento é reformista. As lésbicas somos dissidentes da civilização patriarcal, estamos em fuga desse modo de vida e somos incômodas à sociedade, com orgulho. Nós lésbicas estamos fora dela, somos marginais. Nós lésbikas radikais não somos movimento social porque não queremos direitos, não queremos melhorias, não queremos ’respeito’ (pois queremos continuar sendo um desacato à Heterossexualidade), queremos destruir ou abandonar essa civilização patriarcal.
Radical é destruir o estado Patriarcal e a civilização industrial ecocida. Radical é aprofundar nossas relações e a mudança que representamos, é criar na cotidianidade outra forma de viver e de existir.
As mulheres e lésbicas são tratadas como coadjuvantes no movimento de ocupação das escolas. Homens dominam os movimentos sociais e usam mulheres nas suas lutas quando convêm. Enquanto lésbicas, temos que vislumbrar além da lógica demandista. Temos que criar outra vida para nós. Temos que priorizar à nós mesmas. Criar nossas próprias ’escolas’ talvez, como fizeram uma vez as bruxas, queimadas, nossas antepassadas, passando saberes entre si de maneira horizontal, protegendo esses saberes da apropriação hegemônica. Como fez Safo na Grécia com sua Academia da Vênus, onde ensinava filosofia e poesia apenas para mulheres foragidas da escravidão masculina (sapatonas).
Nós lésbicas radikais convocamos então, você, para construirmos juntas, nossa autogestão de mulheres/lésbicas. Convocamos você à autonomia lésbica separatista.
O que queremos? Que queremos de nossas vidas, que queremos enquanto revolução radical lésbica? Em que colocamos nossa energia? Qual é o nosso projeto político?
Estamos nas ruas pelo prazer do combate e pela alegria da insurreição.
Fúria Lésbika!
LESBIKAS RADIKAIS AUTONOMAS
panfleto para baixar aqui.
(caso queira distribuí-lo na sua escola, em alguma okupação, marcha, protesto, ato, evento…)
OKUPAR, RESISTIR, ATÉ O REGIME HETEROSSEXUAL CAIR!