Karta pra lésbika de kor

Salve mana!

Tua escrita é um registro de saberes antigo do nosso povo, ke delatam sékulos e sékulos de invasão, kolonização, genocídio, sekuestro, eskravidão, miscigenação  (falo de miscigenação komo violência racial por estrupro kontra mulheres indígenas e afrikanas ter tido o aval da Igreja Katólika no komeço da kolonização na Amérika portuguesa e o plano de brankeamento da população negra arkitetato por racistas brasileiros no sékulo XIX ke trouxe migração europeia pra o país), falsa abolição… Saberes de resistência ancestral nos ajuda a kontinuar akreditando ke o amanhã será melhor porke ontem muita gente morreu pra ke agente sobrevivesse. Nossas mães, nossas avós, bisavós e tataravós ke traziam nas peles pretas e vermelhas os dokumentos de nossa história de luta não podemos deixar isso passar em branko! Sapatão precisa dessa referência ke usa o negro da tinta pra manchar o papel branko kom letras ancestrais. Porke na moral pra saber kem agente é é preciso olhar pro passado. Komo ke agente pode gostar de uma mulher se agente não souber ke lésbika existe? Toda vez ke você sai na rua mostrando a kara ajuda uma lésbika a resistir, tipo igual e eskrita lésbika de kor. Se a família, a alma, a terra, nossa kultura milenar foi negada a noiz, a eskrita então piorou tá na mão dos patriarkas brankos e heteros. Nossas letras ancestrais são orais e agora agente vai tomar de assalto o papel e a kaneta pra história ser kontada pela nossa visão. Pra gente garantir ke as nossas no futuro tenha konhecimento di kem agente é e não no ke o kolonizador ker ke agente seja, entende. Lésbika e ancestralidade: lembro do itãn de Oxum e Iansãn. Tem também as ikamiabas guerreiras indígenas ke viviam numa tribo só de mulheres. Solidão da lésbika negra é embaçado. Tá relacionado kom racismo profundamente. Ao passo ke sobre a lésbika negra rola o fetiche kausado pela hiperssexualização da mulher negra, akontece também o abandono por uma lésbika branka ke não ker apresentar uma lésbika negra pra sua família. Essa solidão tem um impacto profundo nas nossas subjetividades e nas prátikas afetivas, talvez dai vem um jeito de amar esfomeado, desesperado, karente já ke esse amor é tão raro ou até mesmo a depressão e o isolamento. Mas por outro lado o amor romântiko é uma konstrução social utilizada pra o kontrole feminino. A maioria das nossa estão sobrevivendo em favelas e periferias trampando em subempregos tipo telemarketing. São poukas ke tem um estudo em uma universidade. Tem mana ke pela fome ou pela ilusão de ostentação ke o konsumo dá mete us kano na kara dos playboy, tem umas ke trafika e outras ke rodou e tão tirando uns dia. A inklusão na sociedade através do ter nunka vai sei efetiva. É logiko ke agente precisa de um konforto material, mas o kapitalismo é hierárkiko tá ligada. Pra existir privilégio tem ke existir kem não tem privilégio: o povão. O padrão e o patrão é branko, se você ligar a tv vai ver ke o poder kultural, polítiko, intelectual, financeiro, científiko é da elite branka. Então a pobreza e a miséria tem kor e parece kom agente. A únika solução ke eu vejo é a revolução! Uma transformação ke depende de kada uma. É  a revolução do kotidiano ke eu tô falando, reedukação, kritika e rompimento kom padrões de kontrole desta sociedade onde o homem branko riko e hetero é o o modelo. O ke mais parece kom esse padrão tem mais acesso ao sistema. Totalmente ao kontrário da gente. Vamo lá mana agente não tem nada a perder só a ganhar, ganhar a liberdade! Se você ker uma revolução komece em você mesma. Uma vez uma parceira me falou ke os revolucionários se importava kom o ser. Pra mim ser é ouvir os próprio desejos e kompartilhar o ke tem de bom. É fazer o ke tem vontade. Tipo sapatão sabe?! Sentir vontade de ganhar um karinho dakela mana e chegar nela mesmo tendo medo de tomar uma bota. Ação direta meu é entender a realidade e fazer alguma koisa pra mudar. Ser ao kontrário do ke o padrão manda é bater di frente kom o sistema é se rebelar, por isso ke sapatão é uma potência revolucionária. Já reparou ke o certo nessa sociedade e mulher kom homem? Agente por instinto, escolha ou decepção ker fikar só kom mulher. Muitas já nem se chamam mais de mulher se denominam sapatão, lésbika, entendida, fancha, kaminhoreira, lesbiana, butch. A minha função na derrubada do patriarkado é a lesbianidade. Lesbianidade pra mim é ganhar um karinho di noite de uma kompaheira, ter alguém pra dividir a vida. Lesbianidade também é auto kuidado, autokonhecimento, amor próprio. É kuidar das raízes, é respeitar ke kuando o berimbau toka tá mantendo viva a história de nosso povo: lembrando as dores, nos mostrando os perigos do kaminho, nos ensinando a respeitar as mais velhas e as mais novas e a celebrar a vida, celebrar a vida lésbika é lesbianidade. Falo da kapoeira porke kapoeira é igual a vida ke é loka: uma hora agente se eskiva de um pé nervoso, outra agente ataka, outra agente brinka, outra agente luta, outra agente engana, outra agente tenta não deixar se enganar pedindo sempre a proteção da deusa a labrys é meu patuá. Porke lésbika de kor lésbika negra agente vive no korpo. E é tembém ser fechada kom as irmã,  bolar e exekutar os planos antipatriarkado, é ser guerreira e defender a koletividade. Mana lembra sempre de onde você vem pra tá ciente do seu valor de kem você é. E ai então vamo fazer valer a pena pra não mais sobreviver mas pra super viver. Espero ke essas palavra te fortaleça mais ainda.

Valeu

por FORMIGA

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