Há um corpo especifico lesbico…
Um corpo que foge à mutilação heterossexual.
Não se nasce mulher: se constrói
à base de depilações, cirurgias, medicalizações,
regimes/esfomeamentos, violências, exposições
coisificação, hormonização (contraceptivos), maquiagens,
negações.
O corpo lésbico é uma incógnita:
é homem ou mulher?
Quê é esse ser que não se parece com coisa sequer?
Pêlos cobrindo seu corpo,
outro cheiro cobrindo seu corpo
mais ácido, instintivo, selvagem, extasiante
Um corpo que se move e atua
de modos talvez mais brutos, não melindrosos como os de antes
de andar mais desimpedido e seguro
Um corpo-presença que declara sua existência ao mundo.
As cabeças raspadas, os cabelos curtos, as sombrancelhas selvagens,
e modificações rituais: desenhos sobre a pele, alargadores às vezes, perfurações
reminiscências de amazonas tribais
Rituais estéticos da diferença.
Esse corpo que é um enigma nos consultórios,
esse corpo ingestionável para a medicina,
esses pés que pisam o chão,
esses corpos múltiplos e amedrontadores,
a carne não comedida na magreza,
corpo que ocupa e toma espaço publico,
corpo forte e orgulhoso
desacatando o mundo dos Homens
esse corpo libertado e alegre
em fúria, eufórico,
rindo-se enquanto corre do Patriarcado
escapado da sua escravidão.
O corpo confuso e confundido na rua
sem nome certo.
O corpo que se burla dos códigos dos Invasores
Das leis de gênero/casta sexual
O corpo passional
Nele late uma economia erotica radicalmente subversiva
Uma outra geografia de prazer
Mapeam-se outras ondas de gozo
gozos de liberdade e mutualidade com a outra
O corpo que carrega escrituras da resistência e da fuga
A corpa-existência lésbica que habitamos
que encarnamos carmicamente
deliciosamente, desafiadoramente
Corpa-rebeldia lésbica
Que inaugura um outro mundo.